Yolanda Mohalyi
Yolanda Mohalyi (1909 – 1978)
Yolanda Lederer Mohalyi (Kolozsvar, capital da Transilvânia, Hungria [atual Cluj Napoca, Romênia] 1909 – São Paulo SP 1978). Pintora, desenhista. Na Hungria estuda pintura na Escola Livre de Nagygania e, em 1927, ingressa na Real Academia de Belas Artes de Budapeste. Em 1931, vem para o Brasil e fixa-se em São Paulo, onde leciona desenho e pintura. Foram seus alunos, entre outros, Maria Bonomi (1935) e Giselda Leirner (1928). A partir de 1935, começa a freqüentar o ateliê de Lasar Segall (1891 – 1957), com quem identifica-se. Por volta de 1937, integra o Grupo 7, ao lado de Victor Brecheret (1894 – 1955), Antonio Gomide (1895 – 1967) e Elisabeth Nobiling (1902 – 1975), entre outros. Sua primeira exposição individual ocorre em 1945 no Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB/SP. Em 1951 realiza suas primeiras xilogravuras, com Hansen Bahia (1915 – 1978). Em 1958, recebe o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Entre as décadas de 1950 e 1960, executa em São Paulo vitrais para a Fundação Armando Álvares Penteado – Faap e murais para as igrejas Cristo Operário e São Domingos, além de mosaicos para residências particulares. Mais tarde, executa também vitrais para a Capela de São Francisco, em Itatiaia. Entre 1960 e 1962, leciona no curso de desenho e plástica da Faap.
É também nesse ano que a artista representa o Brasil na 1ª Bienal Americana de Arte, na Argentina, tendo alguns de seus trabalhos escolhidos pelo crítico Sir Herbert Read para uma exposição itinerante nos Estados Unidos. Em 1963, recebe o prêmio de melhor pintor nacional na 7ª Bienal Internacional de São Paulo.
Comentário Crítico
Nascida em Cluj Napoca, na atual Romênia, Yolanda Mohalyi estuda desenho e pintura na Academia de Belas Artes de Budapeste. Forma-se em um ambiente artístico ligado predominantemente ao expressionismo alemão, porém de vertente mais poética. O quadro Moça ao Ar Livre (1930) é um exemplo dessa tendência expressionista e destaca-se pelas tintas carregadas e pelo caráter melancólico e dramático. A artista vem para o Brasil em 1931, fixando-se em São Paulo. Suas obras iniciais têm como tema principal a figura humana e revelam preocupação com as injustiças sociais, como no quadro Desemprego (1931), realizado em tonalidades sombrias.
No Brasil, a pintora integra o Grupo 7, com Victor Brecheret (1894 – 1955), Elisabeth Nobiling (1902 – 1975), Antonio Gomide (1895 – 1967), Rino Levi (1901 – 1965), John Graz (1891 – 1980) e Regina Graz (1897 – 1973). Yolanda revela grande admiração pela obra do pintor Lasar Segall (1891-1957), de quem se torna amiga. A afinidade com a poética de Segall é mostrada nos aspectos formais e também na escolha dos temas: ênfase na figura humana, paisagens urbanas ou campos com animais e principalmente na preocupação em retratar personagens humildes ou desfavorecidos, como ocorre, por exemplo, no quadro Século XX (ca.1938). A paleta é próxima daquela utilizada por Segall, com um cromatismo denso e muito elaborado, no qual predominam os tons ocre. Yolanda Mohalyi emprega, porém, nuances mais luminosas e transparentes, em relação à de Segall. Utiliza com freqüência o amarelo, embora em tonalidades rebaixadas. Procura obter, na pintura a óleo, os efeitos de transparência característicos da aquarela, técnica que emprega freqüentemente e na qual revela grande domínio. Usa a aquarela em vários auto-retratos, naturezas-mortas e também em algumas paisagens brasileiras, representadas em um clima poético como ocorre em Ubatuba, Campos de Jordão ou Arredores de Jacareí (todas sem data). Na aquarela Menino com Abacaxi (1940) utiliza a simplificação formal do cubismo, em fatura muito pessoal, com uma gama cromática luminosa.
A partir da segunda metade da década de 1950, sua obra revela a gradativa passagem para a abstração, por meio da simplificação e geometrização das formas do plano de fundo de quadros como Solidão (1955). Suas telas abstratas da década de 1950 apresentam manchas de cores que se aproximam de formas retangulares, pintadas muito próximas umas das outras ou sobrepostas e preenchem quase totalmente a superfície da tela. As tonalidades são geralmente escuras e saturadas. A artista explora muitas vezes as texturas densas, utilizando tintas encorpadas, às quais acrescenta areia e outros materiais rugosos, como ocorre em Composição à Margem do Rio (1959) ou em Pesquisa (s.d.).
Yolanda Mohalyi torna-se, desde o fim da década de 1950, uma das pintoras mais representativas da pintura informal no país. Participa de várias exposições nacionais e internacionais e de quase todas as Bienais Internacionais de São Paulo, entre 1951 e 1967. Escolhida como melhor pintora nacional na Bienal de 1963, tem uma sala especial na Bienal seguinte. Nessa exposição de 1965, apresenta telas nas quais ocorre a condensação das manchas de cor que emergem em grandes formas, sobre as quais surgem elementos lineares, trabalhados em gestos largos. A artista retoma em seus quadros a procura dos efeitos de transparência.
Em suas obras, gradualmente, as formas se expandem e ocupam espaços cada vez mais amplos, como em A Grande Viagem (1969) ou em Formas em Evolução (s.d.). Na década de 1970, a pintora trabalha com imagens translúcidas e explora harmonias musicais como em Vôo Espacial (1971) ou em Outono 72 (1972). Seus quadros apresentam cores flutuantes, empregadas em singulares expressões luminosas. A tela Meteoro (1971), representativa do último estilo adotado por ela, traz a sugestão de uma harmonia cósmica, explorada pela elaboração do grande espaço construído em sutis transições tonais.