BIOGRAFIA DOS ARTISTAS

Agostinho Batista de Freitas

Agostinho Batista de Freitas (Paulínia1, distrito de Campinas SP 1927 – São Paulo SP 1997)

Pintor e desenhista.

Foi com 17 anos para a cidade de São Paulo, fixando-se em Imirim. Filho de pais portugueses imigrantes da Madeira, trabalhadores da terra no interior do Estado, Agostinho em criança carpia roça e cuidava da criação dos animais. Seus primeiros desenhos foram riscados no chão e nas árvores. Alfabetizou-se em São Paulo e exerceu diversos ofícios: ajudante de pedreiro, encaixotador, eletricista. Foi revelado por Pietro Maria Bardi, que o encontrou vendendo seus trabalhos aos domingos na Praça do Correio e organizou a sua primeira exposição, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 1952. Pinta a paisagem urbana da cidade de São Paulo: A cidade é assim, por esses arranha-céu, por esses prédio, parece que a gente tá no meio de uma rocha, parece um mistério, parece um cemitério (entrevista a Lélia Coelho Frota, 1976). Agostinho também pintou o campo, mas preferiu a cidade ao interior: Luminoso pra cá, letreiro pra lá, naquilo estuda tanta coisa na cabeça, né. Agora, no mato não, ce só vê mato, a única coisa é pensar em ir plantar, né. A cidade, a um tempo lugar da arquitetura de lápides e de movimento, de feição hiper-realista. E a roça, nas suas palavras, quadro de imaginação, talvez pela idealização da distância e da nostalgia do passado. Entre essas representações de cidade e campo, a que se acrescentaram algumas cenas de ritual católico e raríssimas naturezas-mortas, Agostinho deu forma única ao seu talento de criador. Participou de inúmeras mostras no Brasil e no exterior, entre as quais citamos a Bienal de Veneza (1966), a Brazilian Primitives, nos Estados Unidos (1975), e a Arte Naïf: Cinco Artistas, em São Paulo (1998). Agostinho Batista de Freitas (Paulínia1, distrito de Campinas SP 1927 – São Paulo SP 1997). Pintor e desenhista. Atua como eletricista quando, por volta de 1950, inicia-se na pintura como artista autodidata. Vende seus trabalhos na Praça do Correio, em São Paulo, onde é descoberto por Pietro Maria Bardi, que encomenda-lhe um registro da vista panorâmica da cidade, observada do alto do edifício do Banco do Estado de São Paulo, e que, em 1952, organiza sua primeira exposição individual, no Museu de Arte de São Paulo – Masp. Aspectos da paisagem urbana paulistana são temas recorrentes na sua produção.

 

 

Aldemir Martins

Aldemir Martins (1922 – 2006)

Pintor, gravador, desenhista, ilustrador.

O artista plástico Aldemir Martins nasceu em Ingazeiras, no Vale do Cariri, Ceará em 8 de novembro de 1922. A sua vasta obra, importantíssima para o panorama das artes plásticas no Brasil, pela qualidade técnica e por interpretar o “ser” brasileiro, carrega a marca da paisagem e do homem do nordeste.

O talento do artista se mostrou desde os tempos de colégio, em que foi escolhido como orientador artístico da classe. Aldemir Martins serviu ao exército de 1941 a 1945, sempre desenvolvendo sua obra nas horas livres. Chegou até mesmo à curiosa patente de Cabo Pintor. Nesse tempo, freqüentou e estimulou o meio artístico no Ceará, chegando a participar da criação do Grupo ARTYS e da SCAP – Sociedade Cearense de Artistas Plásticos, junto com outros pintores, como Mário Barata, Antonio Bandeira e João Siqueira.

Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1946, para São Paulo. De espírito inquieto, o gosto pela experiência de viajar e conhecer outras paragens é marca do pintor, apaixonado que é pelo interior do Brasil. Em 1960/61, Aldemir Martins morou em Roma, para logo retornar ao Brasil definitivamente.

O artista participou de diversas exposições, no país e no exterior, revelando produção artística intensa e fecunda. Sua técnica passeia por várias formas de expressão, compreendendo a pintura, gravura, desenho, cerâmica e escultura em diferentes suportes. Aldemir Martins não recusa a inovação e não limita sua obra, surpreendendo pela constante experimentação: o artista trabalhou com os mais diferentes tipos de superfície, de pequenas madeiras para caixas de charuto, papéis de carta, cartões, telas de linho, de juta e tecidos variados – algumas vezes sem preparação da base de tela – até fôrmas de pizza, sem contudo perder o forte registro que faz reconhecer a sua obra ao primeiro contato do olhar.

Seus traços fortes e tons vibrantes imprimem vitalidade e força tais à sua produção que a fazem inconfundível e, mais do que isso, significativa para um povo que se percebe em suas pinturas e desenhos, sempre de forma a reelaborar suas representações. Aldemir Martins pode ser definido como um artista brasileiro por excelência. A natureza e a gente do Brasil são seus temas mais presentes, pintados e compreendidos através da intuição e da memória afetiva. Nos desenhos de cangaceiros, nos seus peixes, galos, cavalos, nas paisagens, frutas e até na sua série de gatos, transparece uma brasilidade sem culpa que extrapola o eixo temático e alcança as cores, as luzes, os traços e telas de uma cultura.

Por isso mesmo, Aldemir é sem dúvida um dos artistas mais conhecidos e mais próximos do seu povo, transitando entre o meio artístico e o leigo e quebrando barreiras que não podem mesmo limitar um artista que é a própria expressão de uma coletividade.

Em 1941, participou da criação do Centro Cultural de Belas Artes, em Fortaleza, com Antonio Bandeira, Raimundo Cela, Inimá de Paula e Mário Baratta, um espaço para exposições permanentes e cursos de arte. Três anos depois, a instituição passou a chamar-se Sociedade Cearense de Artes Plásticas – SCAP. Viveu em São Paulo a partir de 1946, após rápida permanência no Rio de Janeiro (1945). Realizou muitas individuais e participou de várias mostras e Salões oficiais pelo Brasil e exterior. Recebeu o prêmio de melhor desenhista na 3ª Bienal Internacional de São Paulo (1955), na Bienal de Veneza (1956), prêmio de viagem ao exterior no Salão Nacional de Arte Moderna – RJ (1959), permanecendo por dois anos na Itália e em muitos outros certames.

Faleceu em 05 de Fevereiro de 2006, aos 83 anos, no Hospital São Luís em São Paulo.

 

 

Aldir Mendes

Aldir Mendes de Souza (São Paulo, SP, 1941 – idem, 2007).

Pintor, desenhista, escultor e gravador.

Forma-se pela Escola Paulista de Medicina (EPM) em 1964, especializando-se em cirurgia plástica. Autodidata em pintura, começa a expor no início da década de 1960, desenvolvendo paralelamente as carreiras de médico e de artista. Defende sua tese de doutorado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), em 1966. A partir de 1969, o cafeeiro e o cafezal tornam-se assuntos constantes em sua produção.

Nos anos 1970, realiza pinturas que fazem referências à cidade se expandindo em direção ao campo. Nessa mesma década, atua como roteirista e diretor de cinema, realizando curtas, médias e longa-metragens.

Em 1992, Souza comemora 30 anos de pintura com exposição no Paço das Artes, em São Paulo. No mesmo ano, na Itália, publica Geometrie Parlanti [Geometrias Falantes], livro sobre sua obra que conta com textos de críticos italianos e com um poema de Haroldo de Campos (1929-2003), escrito com base na obra de Souza especialmente para essa publicação.

Desde o início da década de 1980 são lançados vários livros que analisam sua trajetória artística, como Aldir – Obsessão pela Cor, da autoria dos críticos Frederico Morais e Olívio Tavares de Araújo.

 Comentário Crítico
Aldir Mendes de Souza inicia sua carreira artística nos anos 1960. Realiza performances e obras em técnica mista próximas do universo da ficção científica, como Tragédia Espacial (1966). Na década de 1970, faz trabalhos com chapas e filmes para raio-X e em termografia, como Mulher em Termografia (1973), nos quais se nota a influência de sua atuação como médico.

Ao mesmo tempo, os temas do cafezal e da relação entre campo e cidade aparecem em sua produção. Essas pinturas apresentam, num primeiro momento, uma vocação descritiva, como na tela Cafezal (1962). Aos poucos, porém, o tema do cafezal passa a ser tratado de um modo cada vez mais abstrato, como em Cidade Campo (1982).

Ao comentar a obra de Aldir Mendes de Souza, o crítico Frederico Morais nota que, a partir dos anos 1970, a geometria toma o lugar do tema. E também pondera que, apesar da diferença de tratamento formal, a pintura de Souza sugere aproximações com as obras de Arcangelo Ianelli (1922-2009) e Alfredo Volpi (1896-1988) no que tange à preocupação com a cor num contexto geométrico. Como nota o historiador da arte Renato Brolezzi, a produção do artista ao longo do tempo procura a resposta para uma questão básica – a de como compreender e traduzir plasticamente o espaço.

A geometria, principalmente com o uso de retângulos em perspectiva, torna-se predominante em sua obra. A partir do fim da década de 1980, Souza produz trabalhos de pintura em concreto e propõe telas exibidas na horizontal, dispostas no chão, que possibilitam um diferente ângulo de visão ao espectador.

 

 

Aldo Bonadei

Aldo Bonadei  (1906 – 1974)

Pintor brasileiro, e destacado integrante do Grupo Santa Helena por sua formação mais erudita. O interesse por diferentes áreas levou-o a desenvolver atividades em poesia, moda e teatro. O artista teve importante atuação, entre os anos 1930 e 1940, na consolidação da arte moderna paulista e foi um dos pioneiros no desenvolvimento da arte abstrata no Brasil.

No fim da década de 1950 atuou como figurinista na Companhia Nydia Lícia – Sérgio Cardoso e em dois filmes de Walter Hugo Khoury.

Aldo Cláudio Felipe Bonadei (São Paulo SP 1906 – idem 1974) foi pintor, designer, gravador, figurinista e professor. Entre 1923 e 1928 é aluno de desenho do pintor Pedro Alexandrino (1856 – 1942), período em que também frequenta o ateliê do pintor Antonio Rocco (1880 – 1944). Em 1929, Bonadei torna-se amigo do professor de arte Amadeo Scavone.

Viaja para a Itália, entre 1930 e 1931, e freqüenta a Accademia di Belle Arti di Firenze [Academia de Belas Artes de Florença], onde tem aulas com o pintor Felice Carena (1879 – 1966) e seu assistente Ennio Pozzi (1893 – 1972), ambos ligados ao movimento novecento. Nesse período, dedica-se ao desenho da figura humana, principalmente ao nu. Retorna a São Paulo no início da década de 1930 e participa ativamente do Grupo Santa Helena, da Família Artística Paulista – FAP e do Sindicato dos Artistas Plásticos. Integra de 1939 e 1941 o Grupo Cultura Musical, criado pelo psiquiatra Adolpho Jagle, que promove reuniões de artistas. Datam dessa época as suas primeiras experiências abstratas. Em 1949 leciona na Escola Livre de Artes Plásticas, primeira escola de arte moderna de São Paulo e participa do Grupo Teatro de Vanguarda.

No ano seguinte, funda a Oficina de Arte – O. D. A., com Odetto Guersoni (1924 – 2007) e Bassano Vaccarini (1914 – 2002). No fim da década de 1950 atua como figurinista nas peças Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues (1912 – 1980), e Casamento Suspeitoso, de Ariano Suassuna (1927), ambas encenadas pela Companhia Nídia Lícia – Sérgio Cardoso. Nesse período, desenha alguns figurinos para dois filmes dirigidos por Walter Hugo Khoury (1929 – 2003), Fronteiras do Inferno (1958) e Na Garganta do Diabo (1959).

Concentrou-se em alguns temas, como paisagens, naturezas mortas e flores. No quadro intitulado “Natureza Morta”, de 1954, percebe-se a presença diluída de elementos figurativos e a ausência de perspectiva. No ambiente que se integra, tudo é importante para a composição, tudo é motivo de geometrização.

Integrante do Grupo Santa Helena que reunia entre outros Rebolo, Zanini, Pennacchi, Clóvis Graciano e Volpi.

Realizou muitas exposições individuais e participou de vários Salões oficiais destacando-se: Bienal Internacional de São Paulo (1ª, 2ª, 3ª, 6ª, 7ª); Bienal de Veneza (1952); Panorama da Arte Moderna Brasileira (1970).

 

Alfredo Volpi

Alfredo Volpi (1896 – 1988)

Nascido em Lucca – Itália, foi um pintor ítalo-brasileiro considerado pela crítica como um dos artistas mais importantes da segunda geração do modernismo. Uma das características de suas obras são as bandeirinhas e os casarios.

Autodidata, começou a pintar em 1911, executando murais decorativos. Em seguida, trabalhou com óleo sobre madeira, consagrando-se como mestre utilizador de têmpera sobre tela.

Grande colorista, explorou através das formas, composições magníficas, de grande impacto visual. Em conjunto com Arcangelo Ianelli e Aldir Mendes de Souza formou uma tríade de exímios coloristas, foco de livro denominado 3 Coloristas, escrito por Alberto Beuttenmüller (Ed. IOB, julho de 1989).

Trabalhou também como pintor-decorador em residências da sociedade paulista da época, executando trabalho de decoração artística em paredes e murais. Realizou a primeira exposição individual aos 48 anos de idade.

Na década de 1930 passa a fazer parte do Grupo Santa Helena com vários artistas como Mário Zanini e Francisco Rebolo. Em 1936, participa da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo e integra, em 1937, a Família Artística Paulista – FAP. Em 1940, ganha o concurso promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, com trabalhos realizados com base nos monumentos das cidades de São Miguel e Embu. Realiza trabalhos para a Osirarte, empresa de azulejaria criada em 1940, por Rossi Osir. Sua primeira exposição individual ocorre em São Paulo, em 1944. Em 1950, viaja para a Europa acompanhado de Rossi Osir e Mario Zanini

Na década de 1950 evoluiu para o abstracionismo geométrico, de que é exemplo a série de bandeiras e mastros de festas juninas. Recebeu o prêmio de melhor pintor nacional na segunda Bienal de São Paulo, em 1953. Participou da primeira Exposição de Arte Concreta, em 1956.

Pertenceu ao Grupo Santa Helena, assim chamado porque todos os participantes desse grupo tinham seu local de trabalho no palacete do mesmo nome, situado na Praça da Sé, em São Paulo. Faziam parte do Grupo Santa Helena os seguintes pintores: Aldo Bonadei, Mário Zanini, Clóvis Graciano, Fúlvio Penacchi, Raphael Galvez e outros.

Exerce vários ofícios, inclusive o de decorador de interiores.

É convidado a participar, em 1956 e 1957, das Exposições Nacionais de Arte Concreta e mantém contato com artistas e poetas do grupo concreto. Recebe o prêmio Aquisição na Bienal de Veneza (1952), Melhor Pintor Nacional da Bienal Internacional de São Paulo (1953), dividido com Di Cavalcanti; o prêmio Guggenheim (1958); Melhor Pintor Brasileiro pela crítica de arte do Rio de Janeiro (1962 e 1966), Melhor Pintor Nacional no Panorama da Arte Brasileira MAM – SP (1970), entre outros.

  • início de sua produção é naturalista de formas e cores, de forma impressionista/expressionista.
  • na década de 50 aos poucos vai substituindo a tinta a óleo pela têmpera.
  • sempre foi seduzido pela Arte dos primitivos e de Giotto (que pintava afrescos) na década de 50 inicia sua fase construtiva, que compreende um período estático com fachadas e casas abstratizadas, até chegar na década de 60 aos grandes esquemas óticos e vibráteis, das bandeirinhas, mastros com fitas, construções puramente cromáticas
  • Simplicidade das formas
  • Sentimento nacionalista/ modernista
  • Formas bem estruturadas e limpas
  • Chega a esquemas elementares: fachadas limpas (ao invés de arabescos sinuosos), bidimensionalidade, imaterialidade da têmpera (ao invés da densidade do óleo).

 

 

Amilcar de Castro

Amilcar de Castro (1920 – 2002)

Foi um escultor, artista plástico e designer gráfico brasileiro. Introduziu a reforma gráfica do Jornal do Brasil nos anos 1950, que revolucionou o diagramação, e design de jornais como um todo, no Brasil. Estabeleceu-se em Belo Horizonte em 1934 e formou-se em Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1945, onde conheceu Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino.

Freqüentou a Escola Guignard entre 1944 e 1950, onde estudou desenho com Alberto da Veiga Guignard e escultura figurativa com Franz Weissmann. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1953, iniciando sua carreira de diagramador nas revistas Manchete e A Cigarra.

Participou do Grupo Neoconcreto no Rio de Janeiro (1959-1961), e elaborou a reforma gráfica do Jornal do Brasil (1957/59). Durante os anos 60 fez a diagramação dos jornais Correio da Manhã, Última Hora, Estado de Minas, Jornal da Tarde e A Província do Pará, entre outros, além de ter trabalhado como diagramador de livros na Editora Vozes.

Após receber uma bolsa da Fundação Guggenheim e o Prêmio Viagem ao Exterior no XV Salão Nacional de Arte Moderna, em 1967, viajou para os Estados Unidos, fixando-se em Nova Jérsei. Em 1971 retornou a Belo Horizonte, dedicando-se a atividades artísticas e educacionais. Dirigiu a Fundação Escola Guignard (1974/77), onde ensinou expressão bidimensional e tridimensional. Foi professor de composição e escultura na Escola de Belas Artes da UFMG (1979/90) e de escultura na Fundação de Arte de Ouro Preto-FAOP (1979).

Em 2005, a Quinta Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, o escolheu como o grande homenageado do evento, a partir da indicação do Curador-Geral, Paulo Sergio Duarte. Coube ao Curador-Assistente da Bienal, José Francisco Alves, a curadoria das cinco exposições do homenageado, em diversos locais e instituições de Porto Alegre, se constituindo na maior e mais completa exibição de trabalhos do artista até hoje realizada, com obras de coleções de vinte e oito cidades, de cinco estados brasileiros.

Um dos destaques dessa Bienal do Mercosul foi a pesquisa e a exposição, pela primeira vez, da ampla produção de Amilcar de Castro nas artes gráficas, como paginador e ilustrador, da década de 1950 a princípios do séc. XXI, em especial com originais e fac similes de jornais, livros, revistas, cartazes e outras peças gráficas, tais como os trabalhos realizados para a Manchete (revista), entre 1956 e 1957, o Jornal do Brasil, entre 1957 e 1961, e o Jornal de Resenhas da Folha de São Paulo, entre 1999 e 2003.

Amilcar de Castro é considerado pelos críticos e historiadores da arte um dos escultores construtivos mais representativos da arte brasileira contemporânea.

 

 

Anita Malfatti

Anita Malfatti (1889-1964)

Pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora. Inicia seu aprendizado artístico com a mãe, Bety Malfatti (1866 – 1952). Devido a uma atrofia congênita no braço e na mão direita, utiliza a esquerda para pintar. No ano de 1909, pinta algumas obras, entre elas a chamada Primeira Tela de Anita Malfatti. Reside na Alemanha entre 1910 e 1914, onde tem contato com a arte dos museus, freqüenta por um ano a Academia Imperial de Belas Artes, em Berlim, e posteriormente estuda com Fritz Burger-Mühlfeld (1867 – 1927), Lovis Corinth (1858 – 1925) e Ernst Bischoff-Culm. Nesse período também se dedica ao estudo da gravura. De 1915 a 1916 reside em Nova York e tem aulas com George Brant Bridgman (1864 – 1943), Dimitri Romanoffsky (s.d. – 1971) e Dodge, na Arts Students League of New York, e com Homer Boss (1882 – 1956), na Independent School of Art. Sua primeira individual acontece em São Paulo, em 1914, no Mappin Stores, mas é a partir de 1917 que se torna conhecida quando em uma exposição protagonizada pela artista – em que também expunham artistas norte-americanos – recebe críticas de Monteiro Lobato (1882 – 1948) no artigo A Propósito da Exposição Malfatti, mais tarde transcrito em livro com o título Paranóia ou Mistificação? Em sua defesa, Oswald de Andrade publica, em 1918, artigo no Jornal do Comércio. Estuda pintura com Pedro Alexandrino (1856 – 1942) e com Georg Elpons (1865 – 1939) exercita-se no modelo nu. Em 1922, participa da Semana de Arte Moderna expondo 20 trabalhos, entre eles O Homem Amarelo (1915/1916) e integra, ao lado de Tarsila do Amaral (1886 – 1973), Mário de Andrade (1893 – 1945), Oswald de Andrade (1890 – 1954) e Menotti Del Pichia (1892 – 1988), o Grupo dos Cinco. No ano seguinte, recebe bolsa de estudo do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e parte para Paris, onde é aluna de Maurice Denis (1870 – 1943), freqüenta cursos livres de arte e mantém contatos com Fernand Léger (1881 – 1955), Henri Matisse (1869 – 1954) e Tsugouharu Foujita (1886 – 1968). Retorna ao Brasil em 1928 e leciona desenho e pintura no Mackenzie College, na Escola Normal Americana, na Associação Cívica Feminina e em seu ateliê. Na década de 1930, em São Paulo, integra a Sociedade Pró-Arte Moderna – SPAM, a Família Artística Paulista – FAP e participa do Salão Revolucionário. A primeira retrospectiva acontece em 1949, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – Masp. Em 1951, participa do 1º Salão Paulista de Arte Moderna e da 1ª Bienal Internacional de São Paulo.

Anita Malfatti inicia, bem jovem, o aprendizado em artes com a mãe, Bety Malfatti (1866 – 1952). Aos 20 anos, procura aperfeiçoar seus estudos na Europa. Graças à ajuda financeira de seu tio Jorge Krug, consegue mudar-se para Alemanha e ingressar na Academia Imperial de Belas Artes de Berlim. Nessa cidade a artista ganha familiaridade com as coleções dos museus e das galerias. A Alemanha, em 1910, vive uma efervescência do expressionismo, que mobiliza a produção nacional e o debate em torno dela.

No primeiro ano, Anita toma contato com toda a agitação modernista, visitando as exposições com grande curiosidade, mas seus estudos são ainda bastante tradicionais. Na academia ela tem aulas de desenho, perspectiva e história da arte. O interesse pelas novas linguagens se amplia nas aulas particulares que tem com o professor Fritz Burger-Mühlfeld (1867 – 1927). Este artista, ligado ao pós-impressionismo alemão, lhe oferece possibilidades artísticas além das abordagens tradicionais. A presença do modernismo em sua formação é acentuada nos cursos com Lovis Corinth (1858 – 1925) e Ernst Bischoff-Culm. Em 1912, ao visitar a grande retrospectiva de arte moderna Sonderbund em Colônia, Anita já se familiarizara com a produção moderna. Nos retratos pintados pela artista no período transparecem o aprendizado das novas poéticas. O contorno clássico prevalece, mas as cores são usadas de modo expressivo, demonstram uma movimentação maior e mais contrastada que a do desenho. Embora não entrem em conflito com as formas, é perceptível que os elementos operam em dinâmicas distintas. Anita expõe esses quadros em sua primeira individual, em 1914, depois de retornar a São Paulo.

A Semana de Arte Moderna, mais uma vez, movimentou a vida artística insípida de São Paulo. Anita participou dela com 22 trabalhos. Uma vez que o círculo modernista vinha de encontro com suas aspirações artísticas, ela entraria também para o grupo dos cinco.

No final de setembro de 1928, Anita já se encontrava no Brasil. O ambiente artístico encontrado por Anita na volta era diferente do que deixara em 1923; o grupo inicial evoluíra, surgiam novos adeptos e novos movimentos. O número de artistas plásticos também crescera.

Na chegada, Mário de Andrade noticiou imediatamente sua chegada, relembrando quem ela era.

Em 1929 abria em São Paulo sua quarta individual. Depois de fechar sua exposição, até 1932, Anita dedicou-se ao ensino escolar. Retomou suas aulas na Escola Normal Americana e foi trabalhar também na Escola Normal do Mackenzie College. Em 1933, muda-se para a Rua Ceará, no bairro de Higienópolis, onde instala seu ateliê e dá aulas, inclusive para Oswald de Andrade Filho, onde permanece até 1952, com a venda da casa, com a morte de sua mãe.[6]

Em 1964, na cidade de São Paulo, Anita Malfatti morre.

Antonio Gomide

Antonio Gonçalves Gomide (Itapetininga SP 1895 – Ubatuba SP 1967).

Pintor, escultor, decorador e cenógrafo. Muda-se com a família para a Suíça em 1913, e freqüenta a Academia de Belas Artes de Genebra até 1918, onde estuda com Gillard e Ferdinand Hodler (1853 – 1918). Muda-se para a França na década de 1920. Em 1922, em Toulouse, trabalha com Marcel Lenoir (1872 – 1931), com quem aprende a técnica do afresco. De 1924 a 1926, em Paris, instala ateliê e entra em contato com artistas europeus ligados aos movimentos de vanguarda. No ambiente parisiense, convive também com Victor Brecheret (1894 – 1955) e Vicente do Rego Monteiro (1899 – 1970). Retorna ao Brasil em 1929. Em 1932, atua na fundação da Sociedade Pró-Arte Moderna – Spam e do Clube dos Artistas Modernos – CAM.

Entre as décadas de 1930 e 1940, além de pinturas, produz afrescos e cartões para vitrais. Leciona desenho na escolinha do Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, entre 1952 e 1954. Suas obras aliam formas abstratas a motivos indígenas ou a composições com paisagens. Na área das artes decorativas, com Regina Graz (1897 – 1973) e John Graz (1891 – 1980), é considerado um dos introdutores do estilo art deco no país.

 Comentário crítico
Antonio Gomide viaja para a França na década de 1920, onde conhece pintores ligados ao cubismo e outros movimentos de vanguarda. Os quadros Paisagem com Barcos e Ponte de Saint-Michel (ambos de 1923) revelam a geometrização e a simplificação formal cubistas, aliados a uma paleta com suaves passagens de tons que remete ao pintor francês Paul Cézanne (1839-1906). Já o Retrato de Vera Azevedo (1930), na opinião da crítica Maria Alice Milliet, representa a assimilação máxima do art deco no Brasil, com seu caráter altamente estilizado. A arquitetura determina o ritmo ascensional do quadro, acompanhando a verticalização da metrópole paulistana. Algumas obras de Gomide revelam afinidades estilísticas com a produção de Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) e Victor Brecheret (1894-1955).

A partir da década de 1930, com o retorno de Gomide ao Brasil, sua pintura passa a enfatizar temas nacionais.

Como nota o historiador da arte Walter Zanini, à inspiração cubista de suas obras dos anos 1920, se opõem as obras posteriores, caracterizadas pela abordagem mais espontânea de um repertório diversificado, em que predomina a figura humana.

Antonio Gomide destaca-se pela versatilidade técnica, realizando pinturas a óleo, aquarelas, desenhos, afrescos, cartões para vitrais e vários projetos decorativos, nos quais as linhas sinuosas e as formas abstratas são aliadas a motivos indígenas ou a composições com paisagens. Na área das artes decorativas, com Regina Graz (1897-1973) e John Graz (1891-1980), é considerado um dos introdutores do estilo art deco no país.

 

Antonio Peticov

Antonio Peticov (1946 – )

Nascido em Assis- SP, é um pintor, desenhista, escultor e gravurista brasileiro.

Autodidata, aos doze anos de idade teve a certeza de que queria trilhar o caminho das artes. E, para alcançar seu objetivo, buscou informações em livros e revistas. Sua formação artística se constitui a partir de pesquisas pessoais sistemáticas em história da arte e pela sua integração aos movimentos artísticos de vanguarda na segunda metade da década de 60.

Em 1970 mudou-se para Londres, onde ampliou seus estudos. No ano seguinte, transferiu residência para Milão e, em 1986, mudou-se novamente, desta vez para Nova Iorque, só retornando ao Brasil em 1999.

Ao longo de sua carreira aplicou seus conhecimentos em design, criando uniformes e embalagens, mas sempre enfocando a arte.

Com produção diversificada, Peticov trabalha com pintura, desenho, gravura, escultura e ilustração. Faz instalações como Balli Ballet (1982), em Cloudwalk Farm, Connecticut, e The Big Ladder – Scala Cromatica (1983), para a New York Art Expo, nos Estados Unidos. Apresenta, em 1989, o Projeto Natura – Rio Pinheiros na 20ª Bienal Internacional de São Paulo, prevendo a plantação de várias espécies de árvores ao longo do rio Pinheiros, em São Paulo; e, em 1992, cria o Projeto Bosque Natura, para a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. Realiza, em 1990, o mural Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, instalado na estação República do metrô de São Paulo, em homenagem ao centenário do escritor.

Em 2003, é lançado o livro Trabalhos Escolhidos, juntamente com a exposição no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – Masp. Em suas pinturas trabalha freqüentemente com séries temáticas como a Seção Áurea e Dia e Noite, utilizando conceitos da física e da matemática, relacionados ao espectro de cores e à luz.

Em seus quadros, destacam-se os efeitos luminosos e a utilização de cores intensas. Neles, cria imagens oníricas alinhadas ao imaginário da publicidade.

Autor de obra variada e técnica diversificada, onde se acham combinadas várias tendências da arte contemporânea, seu trabalho deve ser inserido na produção oriunda da década de 60, no bojo das renovações vanguardistas trazidas pelos movimentos internacionais como o surrealismo, o grafismo, o dadaísmo, a pop art e a livre pesquisa da chamada arte experimental. A incursão por essas e outras propostas estéticas surgidas na atualidade fica bastante evidenciada em sua pintura, onde os elementos geométricos, surreais e abstratizantes são combinados com um resultado plástico bastante satisfatório e efeitos às vezes surpreendentes.

 

 

Arcangelo Ianelli

Arcangelo Ianelli (São Paulo SP 1922 – idem 2009).

Pintor, escultor, ilustrador e desenhista. Inicia-se no desenho como autodidata. Em 1940, estuda perspectiva na Associação Paulista de Belas Artes e, em 1942, recebe orientação em pintura de Colette Pujol (1913-1999). Dois anos depois, freqüenta o ateliê de Waldemar da Costa (1904-1982) com Lothar Charoux (1912-1987), Hermelindo Fiaminghi (1920-2004) e Maria Leontina (1917-1984). Durante a década de 1950 integra o Grupo Guanabara juntamente com Manabu Mabe (1924-1997), Yoshiya Takaoka (1909-1978), Jorge Mori (1932), Tomoo Handa (1906-1996), Tikashi Fukushima (1920-2001) e Wega Nery (1912-2007), entre outros.

 A partir da década de 1940, produz cenas cotidianas, paisagens urbanas e marinhas, que revelam grande síntese formal e uma gama cromática em tons rebaixados. Por volta dos anos 1960, volta-se ao abstracionismo informal e produz telas que apresentam densidade matérica e cores escuras.

 No fim dos anos 1960, sua obra é ao mesmo tempo linear e pictórica, onde se destaca o uso de grafismos. Já a partir de 1970, volta-se à abstração geométrica e emprega principalmente retângulos e quadrados, que se apresentam como planos superpostos e interpenetrados. Atua ainda como escultor, desde a metade da década de 1970, quando realiza obras em mármore e em madeira, nas quais retoma questões constantes na obra pictórica. Em 2002, comemora os seus 80 anos com retrospectiva montada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp).

 Comentário Crítico
Arcangelo Ianelli começa a desenhar na adolescência. No princípio da década de 1940, tem aulas de arte na Associação Paulista de Belas Artes e inicia curso de pintura com Colette Pujol. Nesse período, faz pinturas e desenhos realistas, estruturados de acordo com as características percebidas na pintura paulistana.

Entre o fim da década de 1940 e início da década de 1950, passa a demonstrar interesse por outras propostas estilísticas, aproximando-se progressivamente de soluções alinhadas ao debate sobre a arte construtiva, muito embora se mantenha ligado à figuração.

 Nas marinhas, realizadas em 1957, a tendência à simplificação formal se aprofunda. O artista reduz sua paleta de cores e se concentra em formas lineares e bem contornadas. Nesse trabalho, as formas são planas, sem o sombreado tradicional. Os primeiros quadros da década de 1960 são feitos com formas geométricas simples e fechadas. Ianelli usa esse vocabulário para criar paisagens e retratos. Em 1961, a pintura torna-se francamente abstrata. No entanto, as cores ralas e a pincelada suave são trocadas por manchas espessas de tinta e cores escuras.

 Três anos mais tarde, ganha o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM). Passa de 1965 a 1967 na Europa. Nesse período, o artista insere linhas e outros grafismos em sua pintura, as formas vão se tornando mais regulares e contornadas, as manchas são suavizadas.

 Em 1973, Ianelli radicaliza o processo de estruturação de suas telas e parte para a abstração geométrica. Divide a tela em formas regulares e busca uma relação rítmica entre elas. As pinturas guardam semelhanças com alguns trabalhos do concretismo. No mesmo ano, inicia séries de pintura, como Transparências e Superposições, em que trabalha com retângulos sobrepostos, com colorido discreto e vibrante. Em 1974, começa a realizar obra tridimensional. Como em suas pinturas, sobrepõe retângulos em planos diferentes de uma superfície contínua.

 A partir de 1983, o artista relaciona essas formas geométricas com zonas de cor menos lineares. As manchas passam a escapar do contorno. Em alguns trabalhos, somem as linhas que separam uma cor da outra e as manchas regulares de tinta são sobrepostas às formas retangulares, as passagens de cor se tornam mais tonais. Durante a década de 1980, alterna essas pinturas mais informais a outras em que relaciona as manchas com retângulos.

 Em 1995, Ianelli volta à escultura. Realiza volumes brancos enxutos e bem definidos de mármore. Ao mesmo tempo, sua pintura caminha para a simplificação. Em trabalhos feitos entre 1999 e 2000, chamados Vibrações, reduz o número de cores e de manchas na pintura. A aplicação da tinta é suave, como se fosse borrifada na tela. As obras têm semelhanças com o trabalho de artistas norte-americanos, como Mark Rothko e Jules Olitski.

 

Arnaldo Ferrari

 Arnaldo Ferrari (São Paulo SP 1906 – idem 1974).

Pintor, desenhista, professor. Seguindo a profissão do pai, trabalha como pintor decorador, realizando frisos decorativos para residências. Estuda artes decorativas no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, entre 1925 e 1935. Em 1934, divide um ateliê com amigos no edifício Santa Helena e, pela amizade com o pintor Mario Zanini (1907 – 1971), aproxima-se dos demais integrantes do Grupo Santa Helena. Como Alfredo Volpi (1896 – 1988), faz decorações para palacetes, dedicando-se à pintura esporadicamente.

 Freqüenta também o curso livre de pintura e desenho na Escola Nacional de Belas Artes – Enba, onde tem aulas de desenho e pintura com Enrico Vio (1874 – 1960), entre 1936 e 1938. Sua produção inicial aproxima-se daquela dos pintores do Grupo Santa Helena em relação aos temas e realiza paisagens dos arredores de São Paulo, naturezas-morta e nus. Entre 1950 e 1959, integra o Grupo Guanabara, com Thomaz (1932 – 2001), Tomie Ohtake (1913), Tikashi Fukushima (1920 – 2001) e Oswald de Andrade Filho (1914 – 1972), entre outros.

 Na metade da década de 1950, interessa-se pela obra do pintor uruguaio Joaquín Torres-García (1874 – 1949), e volta-se para a pintura abstrata e construtivista. É apresentada retrospectiva de sua obra em 1975, no Paço das Artes, em São Paulo, e catálogo com textos de Theon Spanudis (1915 – 1986), José Geraldo Vieira (1897 – 1977) e Mário Schenberg (1914 – 1990), entre outros.

 Comentário Crítico

Arnaldo Ferrari estuda desenho no Liceu de Artes e Ofícios, entre 1925 e 1935. Também em torno de 1930, freqüenta o curso livre de desenho e pintura da Escola de Belas Artes de São Paulo, onde é aluno de Enrico Vio (1874-1960). Até a década de 1950, acompanha o Grupo Santa Helena, produzindo naturezas-mortas e paisagens dos arredores de São Paulo, que apresentam grande simplificação formal e uma paleta de tons escuros.

 A partir da metade da década de 1950, aproxima-se do Grupo Guanabara, também de São Paulo. Nessa época, começa a pintar paisagens urbanas, principalmente fachadas de casas, cujo tratamento formal tende cada vez mais à abstração, como em Casario (1960) e em Igrejas e Casas (1962). Sua pintura passa a vincular-se ao construtivismo geométrico, revelando a apreciação da obra do pintor uruguaio Joaquín Torres-García (1874-1949).

 Predomina em suas obras um ritmo visual vibrante, dado pela freqüência de curvas e contracurvas ou pelo jogo de ortogonais, em composições cuidadosas. Os quadros revelam uma pulsação interna forte, dada também pelo uso da gama cromática, densa e profunda, mais do que impactante. Na opinião do historiador da arte Walter Zanini (1925), na obra do artista está presente sempre uma espiritualização em tudo aquilo que compõe o seu universo.

Artur Barrio

Artur Barrio (1945 – )

Artur Alípio Bárrio de Sousa Lopes (Porto / Portugal, 1945), passou a morar no Rio de Janeiro em 1955. Seu interesse e dedicação pela pintura começou em 1965 e dois anos depois iniciou seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes. Nessa época produzia “diários de bordo” (cadernos com anotações em linguagens verbais e não verbais, símbolos, desenhos, estudos das formas, cores, luz e sombra, entre outras idéias).

No final da década de 60, passou a realizar projetos de instalações e performances. Em 1969, iniciou “Situações” – trabalhos de grande impacto, acometidos com materiais orgânicos como lixo, papel higiênico, dejetos humanos e pedaços de carnes em estado de putrefação (como a obra Trouxas Ensanguentadas). Com tais projetos, ele causava algumas de suas intervenções no espaço urbano. No mesmo ano, participou do Salão de Bússola no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Em 1970, participou da exposição Information em Nova York e escreveu, uma espécie de manifesto, criticando as categorias tradicionais de arte, seu mercado e as situações sociais e políticas da América Latina. Na mostra “Do Corpo à Terra” do mesmo ano, Bárrio espalhou sua obra “Trouxas Ensanguentadas” em um rio de Belo Horizonte e documentou esse trabalho através de fotografias, de seu diário de bordo e de filmes Super-8.

Morou na África, em Portugal, na França, na Holanda e viajou para diversos lugares onde encontrava cenários e culturas diferentes.

Em suas obras também são encontradas instalações e esculturas utilizando objetos do cotidiano.

Até hoje, já participou de inúmeras exposições pelo Brasil e pelo mundo.

Desde de meados da década de 90, várias exposições e publicações tentam resgatar suas obras e tais essências, já que seus temas e críticas permanecem atemporais. Artur Bárrio, atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Benedito Calixto

Benedito Calixto de Jesus (Conceição de Itanhaém, SP, 1853 – São Paulo, SP, 1927).

Pintor, professor, historiador, ensaísta.

Transfere-se para Brotas, interior de São Paulo, onde adquire noções de pintura com o tio Joaquim Pedro de Jesus, ao auxiliá-lo na restauração de imagens sacras de uma igreja local. Calixto realiza a primeira individual em 1881, na sede do jornal Correio Paulistano, em São Paulo. Muda-se para Santos, trabalha na oficina de Tomás Antônio de Azevedo, e é incumbido da decoração do teto do Theatro Guarany. Em 1883, viaja a Paris para estudar desenho e pintura, com recursos concedidos pelo visconde Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Freqüenta o ateliê de Jean François Raffaëlli (1850-1924) e a Académie Julian, e convive com os pintores Gustave Boulanger (1824-1888), Tony Robert-Fleury (1837-1911) e William-Adolphe Bouguereau (1825-1905), entre outros. Retorna ao Brasil em 1884, trazendo uma câmera fotográfica, que passa a utilizar para elaborar suas composições. Reside em Santos e posteriormente em São Vicente. Produz inúmeras marinhas, em que representa o litoral paulista. No começo do século XX, realiza diversos painéis de temas religiosos para igrejas na capital e interior do Estado de São Paulo. Pinta vistas de antigos trechos das cidades de São Paulo, Santos e São Vicente para o Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP/USP), por encomenda do diretor do museu o historiador Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958). Dedica-se também a estudos históricos da região e à preservação de seu patrimônio, e publica, entre outros, os livros A Vila de Itanhaém, em 1895,  e Capitanias Paulistas, em 1924.

 Comentário Crítico
Benedito Calixto manifesta, desde muito jovem, a tendência para a pintura. Em 1881, passa a residir em Santos, cidade que lhe serve de inspiração para vários quadros. Com uma bolsa concedida pela cidade de Santos, viaja para Paris, onde permanece menos de um ano, trazendo de lá um equipamento fotográfico. É com o quadro Enchente na Várzea do Carmo, ca.1892, que o artista consegue maior destaque: a crítica da época aponta a exatidão admirável com que representa a cidade de São Paulo e alguns de seus principais pontos, como o mercado, a rua 25 de março, a fábrica de chitas e o casario do Brás.

O artista realiza diversas obras para o Museu Paulista, sob encomenda de Afonso d´Escragnolle Taunay, sobretudo cenas da São Paulo antiga e paisagens, sendo que algumas foram baseadas em desenhos de Hercule Florence (1804-1879) ou em fotografias de Militão Augusto de Azevedo (1837-1905), entre outros. Para seus quadros históricos e religiosos, como Fundação de São Vicente, 1900 ou Fundação de Santos, 1922, realiza estudos fotográficos preparatórios, para os quais se vale de minuciosa pesquisa histórica.

As paisagens são a temática mais cara ao artista. Nessas obras, apresenta uma pintura lisa, com o uso de veladuras e um colorido sempre fiel às características locais, embora trabalhado de maneira bastante pessoal no uso dos verdes, azuis e ocres.

Benedito Calixto, que dispunha de amplo conhecimento sobre o litoral paulista, atua ainda como cartógrafo, realizando ensaios de mapas de Santos, e como historiador, escrevendo sobre as capitanias paulistas.

Bruno Giorgi

 Bruno Giorgi (1905 – 1993)

Bruno Giorgi (Mococa SP 1905 – Rio de Janeiro RJ 1993). Escultor. Muda-se com a família para Itália, e fixa-se em Roma em 1913. Em 1920, inicia estudos de desenho e escultura com o professor Loss. Participa de movimentos antifascistas. Em 1931, é preso por motivos políticos e condenado a sete anos de prisão. É extraditado para o Brasil em 1935, por intervenção do embaixador brasileiro na Itália. Em São Paulo, trava contato com Joaquim Figueira (1904 – 1943) e Alfredo Volpi (1896 – 1988). Em 1937, viaja para Paris e freqüenta as academias La Grand Chaumière e Ranson, onde estuda com Aristide Maillol (1861 – 1944). Em 1939, retorna a São Paulo e convive com Mário de Andrade (1893 – 1945), Lasar Segall (1891 – 1957), Oswald de Andrade (1890 – 1954) e Sérgio Milliet (1898 – 1966), entre outros. Começa a praticar desenho de modelo-vivo e pintura com os artistas do Grupo Santa Helena e integra a Família Artística Paulista – FAP. Em 1943, transfere-se para o Rio de Janeiro.

A convite do ministro Gustavo Capanema (1900 – 1985) instala ateliê no antigo Hospício da Praia Vermelha, onde orienta jovens artistas como Francisco Stockinger (1919). Possui obras em espaços públicos como Monumento à Juventude Brasileira, 1947, nos jardins do antigo Ministério da Educação e Saúde – MES, atual Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro; Candangos, 1960, na praça dos Três Poderes, e Meteoro, 1967, no lago do edifício do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília; e Integração, 1989, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

Comentário Crítico

Herdeiro das lições do escultor Aristide Maillol (1861 – 1944), a partir dos anos 1940, Bruno Giorgi revela em seus trabalhos um crescente interesse pela temática e pelos tipos brasileiros. Sua obra gradualmente passa de uma leve estilização da figura humana a uma maior deformação. Na rudeza das superfícies, o modelado evidencia a mão do escultor, como em Mulher ao Luar, 1949.

A partir desses trabalhos, começa a apresentar uma nova plasticidade. Em Maternidade, 1952 ou São Jorge, 1953, os troncos e membros das figuras se alongam e se deformam em contínuo desenvolvimento no espaço. Essa dinâmica abstrata conduz a um jogo de cheios e vazios. A progressiva estilização e redução da figura a poucas linhas pode ser vista, por exemplo, em Candangos, 1960.

Passa então a realizar composições abstratas, onde se nota a tentativa de integração entre sua escultura e a arquitetura moderna, como em Meteoro, 1967, uma de suas obras de maior destaque, ou Condor, 1978. Na década de 1970, Bruno Giorgi retoma a exploração da figura humana, principalmente a representação das formas femininas, muito freqüente em sua produção anterior, da qual resulta uma série de torsos de pedra.

Cândido Portinari

Cândido Portinari (1903 – 1962)

Foi um artista plástico brasileiro. Portinari pintou quase cinco mil obras de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão, como O Lavrador de Café, até gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956,1 e que, em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Portinari é considerado um dos artistas mais prestigiados do Brasil e foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.

Em suas obras, o pintor conseguiu retratar questões sociais sem desagradar ao governo e aproximou-se da arte moderna européia sem perder a admiração do grande público. Suas pinturas se aproximam do cubismo, surrealismo e dos pintores muralistas mexicanos, sem, contudo, se distanciar totalmente da arte figurativa e das tradições da pintura. O resultado é uma arte de características modernas.

Filho dos imigrantes italianos, Giovan Battista Portinari e Domenica Torquato, Cândido Portinari nasceu no dia 29 de dezembro de 1903, numa fazenda de café nas proximidades de Brodowski, interior de São Paulo. Com a vocação artística florescendo logo na infância, Portinari teve uma educação deficiente, não completando sequer o ensino primário. Aos 14 anos de idade, uma trupe de pintores e escultores italianos que atuavam na restauração de igrejas, passa pela região de Brodowski e recruta Portinari como ajudante. Seria o primeiro grande indício do talento do pintor brasileiro. Aos 15 anos, já decidido a aprimorar seus dons, Portinari deixa São Paulo e parte para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Durante seus estudos na ENBA, Portinari começa a se destacar e chamar a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa. Tanto que aos 20 anos já participa de diversas exposições, ganhando elogios em artigos de vários jornais. Mesmo com toda essa badalação, começa a despertar no artista o interesse por um movimento artístico até então considerado marginal: o modernismo.

Um dos principais prêmios almejados por Portinari era a medalha de ouro do Salão da ENBA. Nos anos de 1926 e 1927, o pintor conseguiu destaque, mas não venceu. Anos depois, Portinari chegou a afirmar que suas telas com elementos modernistas escandalizaram os juízes do concurso. Em 1928 Portinari deliberadamente prepara uma tela com elementos acadêmicos tradicionais e finalmente ganha a medalha de ouro e uma viagem para a Europa.

Os dois anos que passou vivendo em Paris foram decisivos no estilo que consagraria Portinari. Lá ele teve contato com outros artistas como Van Dongen e Othon Friesz, além de conhecer Maria Martinelli, uma uruguaia de 19 anos com quem o artista passaria o resto de sua vida. A distância de Portinari de suas raízes acabou aproximando o artista do Brasil, e despertou nele um interesse social muito mais profundo.

Em 1931 Portinari volta ao Brasil renovado. Muda completamente a estética de sua obra, valorizando mais cores e a ideia das pinturas. Ele quebra o compromisso volumétrico e abandona a tridimensionalidade de suas obras. Aos poucos o artista deixa de lado as telas pintadas a óleo e começa a se dedicar a murais e afrescos. Ganhando nova notoriedade entre a imprensa, Portinari expõe três telas no Pavilhão Brasil da Feira Mundial em Nova Iorque de 1939. Os quadros chamam a atenção de Alfred Barr, diretor geral do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA).

A década de quarenta começa muito bem para Portinari. Alfred Barr compra a tela “Morro do Rio” e imediatamente a expõe no MoMA, ao lado de artistas consagrados mundialmente. O interesse geral pelo trabalho do artista brasileiro faz Barr preparar uma exposição individual para Portinari em plena Nova Iorque. Nessa época, Portinari faz dois murais para a Biblioteca do Congresso em Washington. Ao visitar o MoMA, Portinari se impressiona com uma obra que mudaria seu estilo novamente: “Guernica” de Pablo Picasso.

Em 1952 uma anistia geral faz com que Portinari volte ao Brasil. No mesmo ano, a 1° Bienal de São Paulo expõe obras de Portinari com destaque em uma sala particular. Mas a década de 50 seria marcada por diversos problemas de saúde. Em 1954 Portinari apresentou uma grave intoxicação pelo chumbo presente nas tintas que usava.

Desobedecendo as ordens médicas, Portinari continuava pintando e viajando com frequência para exposições nos Estados Unidos, Europa e Israel. No começo de 1962 a prefeitura de Barcelona convida Portinari para uma grande exposição com 200 telas. Trabalhando freneticamente, a intoxicação de Portinari começa a tomar proporções fatais. No dia 6 de fevereiro do mesmo ano, Cândido Portinari morre envenenado pelas telas que fizeram seu sucesso, já que, tinha claustrofobia e desmaiava no “corredor” de telas. Encontra-se sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. Seu filho João Candido Portinari hoje cuida dos direitos autorais das obras de Portinari.

Entre suas obras mais prestigiadas e famosas, destacam-se os painéis Guerra e Paz (1953-1956), que foram presenteados em 1956 à sede da ONU de Nova Iorque. Na época, as autoridades dos Estados Unidos não permitiram a ida de Portinari para a inauguração dos murais, devido às ligações do artista com o Partido Comunista Brasileiro. Antes de seguirem aos EUA, o empresário e mecenas ítalo-brasileiro Ciccillo Matarazzo tentou trazer os paineis para São Paulo, terra natal de Portinari, para apresentá-las ao público.

Porém, isto não foi possível.6 Somente em novembro de 2010, depois de 53 anos, os paineis voltaram ao Brasil e, finalmente, foram exibidos, em 2010, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Para saber mais, ver Guerra e Paz) e, em 2012, no Memorial da América Latina, em São Paulo.

As telas Meninos e piões e Favela são parte do acervo permanente da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. Seu maior acervo sacro, entre pinturas e afrescos, está exposto na Igreja Bom Jesus da Cana Verde, centro da cidade de Batatais, interior de São Paulo, situada a 16 quilômetros de sua cidade natal, Brodowski. São 23 obras, incluindo 2 retratos.

Carlos Araujo

Carlos Araújo (1950)

 Pintor, desenhista, litógrafo, Carlos Alberto de Araújo Filho inicia em 1963 estudos autodidáticos com o painel Alegoria ao Carnaval. Entre 1971 e 1975 cursa engenharia na Universidade Mackenzie, em São Paulo. Em 1973, é convidado a participar da exposição Imagens do Brasil, em Bruxelas. No ano seguinte, faz a primeira exposição individual, no Masp, local em que realiza outras exposições. Além da pintura, trabalha outras técnicas, como desenho e litografia. Lança em Paris, em 1989, o livro de litogravuras Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Na sua obra observam-se elementos da pintura renascentista. No decorrer de sua carreira, realiza diversas exposições individuais e coletivas, no Brasil e exterior. Em 1980, o painel Anunciação, de sua autoria, é enviado pelo governo brasileiro ao Papa João Paulo II. Em 1984, é premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA.

A obra de Carlos Araújo evidencia um perfeito domínio da técnica, aliada ao talento que demonstrara desde criança. Seus temas são cheios de inspiração social: a sociedade brasileira lhe fornece a matéria para transformar em arte as misérias e tragédias humanas. Suas pinturas são carregadas de espectros e assumem um tom metafísico pela definição fugidia das figuras humanas, conquistada através da construção de espaços etéreos, sem profundidade ou peso.
As obras não se concluem onde termina a pintura, elas continuam. Elas parecem ter nascido antes de serem pintadas. É justo, pois, que vivam também além da superfície estrutural. Um sopro espiritual e etéreo envolve suas criações. Trata-se de um sopro que inefavelmente continua muito além.
Ao observarmos sua pintura não nos perguntamos o que é, mas quem é seu autor. Carlos Araújo é um artista além de sua obra. Seu trabalho não é tão somente para ser visto. Não pode ser julgado como o olhamos ou como se julga uma pintura nascida diretamente do olhar, da pincelada, da cor, das relações dos tons. Cada uma de suas obras nasce como nascem os mundos. Cada obra é um mundo à parte. Podemos julgar o mundo?
Seu discurso possui um grande impulso criativo que se adequa à natureza onde o sentimento permanece aquém da emoção. O movimento emotivo precede a interpretação, domina a escolha do tema, seleciona os dados que permeiam a esfera da congenialidade à sua sensibilidade artística.

O artista plástico paulista Carlos Araujo iniciou, há 15 anos, um projeto ousado: pintar 900 telas retratando passagens de toda a Bíblia. Os quadros foram reproduzidos em livro, junto com uma versão ecumênica do texto sagrado, resultando na “Bíblia – Citações”, uma edição de 685 páginas, que mede 50cm por 30cm e pesa 7 quilos.

O trabalho agradou Papa Bento XVI a ponto de fazê-lo escrever um prefácio para a primeira edição, que foi lançada no dia 1º de dezembro na Bienal de Arte Contemporânea de Florença, na Itália. A edição ainda traz introdução e apresentação de Dom Mauro Piacenza, arcebispo de Vittoriana, e Dom Emílio Pignoli, 1º Bispo Diocesano de Campo Limpo, respectivamente. O primeiro exemplar foi entregue ao Pontífice em março deste ano, em sua visita ao Brasil.

Cada Bíblia vem com uma gravura feita por Carlos Araujo especialmente para a edição – são 35 imagens diferentes com cem cópias cada, totalizando 3.500 exemplares da tiragem em português.
Os resultados desse trabalho, bem como da obra geral de Araújo, se refletem em seu currículo, que conta com exposições no Museu de Arte de São Paulo (MASP – 1979 e 1987), Museu de Arte Brasileira (FAAP – 1984), Bienal Internacional de Arte Contemporânea (Florença – 2007), Casa França-Brasil (Exposição Bíblia Citações, Rio de Janeiro – 2007) e Paris (Exposição Carrousel do Louvre, Paris – 2008) e vários outros centros de arte nacionais e internacionais, firmando Carlos Araújo como um dos principais nomes da arte contemporânea.
O artista retornou à Campo Grande e expôs suas “Pinturas da Bíblia” na Art Galeria Mara Dolzan.

CURIOSIDADES

O artista plástico paulista Carlos Araujo iniciou, há 15 anos, um projeto ousado: pintar 900 telas retratando passagens de toda a Bíblia. Os quadros foram reproduzidos em livro, junto com uma versão ecumênica do texto sagrado, resultando na “Bíblia – Citações”, uma edição de 685 páginas, que mede 50cm por 30cm e pesa 7 quilos. O prefácio do livro “Bíblia – Citações” foi escrito pelo Papa Bento XVI e a edição ainda traz introdução e apresentação de Dom Mauro Piacenza, arcebispo de Vittoriana, e Dom Emílio Pignoli, 1º Bispo Diocesano de Campo Limpo, respectivamente. O primeiro exemplar foi entregue ao Pontífice em março deste ano, em sua visita ao Brasil. Cada Bíblia vem com uma gravura feita por Carlos Araujo especialmente para a edição – são 35 imagens diferentes com cem cópias cada, totalizando 3.500 exemplares da tiragem em português.

Cláudio Tozzi

Claudio José Tozzi (São Paulo SP 1944).

Pintor.

É mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). Em suas primeiras obras, o artista revela a influência da arte pop, pelo uso de imagens retiradas dos meios de comunicação de massa, como na série de pinturas Bandido da Luz Vermelha (1967), na qual remete à linguagem das histórias em quadrinhos.

O artista trabalha com temáticas políticas e urbanas, utilizando com freqüência novas técnicas em seus trabalhos, como a serigrafia. Em 1967, seu painel Guevara Vivo ou Morto, exposto no Salão Nacional de Arte Contemporânea, é destruído a machadadas por um grupo radical de extrema direita, sendo posteriormente restaurado pelo artista.

Tozzi viaja a estudos para a Europa em 1969. A partir dessa data, seus trabalhos revelam uma maior preocupação com a elaboração formal e perdem o caráter panfletário que os caracterizava. Começa a desenvolver pesquisas cromáticas na década de 1970.

 Nos anos 80, sua produção abre-se a novas temáticas figurativas, como é possível observar nas séries dos papagaios e dos coqueirais. Apresenta também a tendência à geometrização das formas. Na realização dos quadros utiliza um rolo de borracha de superfície reticulada, o que agrega novos aspectos às suas obras, como textura e volumetria.

 Passa a realizar trabalhos abstratos, nos quais explora efeitos luminosos e cromáticos. Cria painéis para espaços públicos de São Paulo, como Zebra, colocado na lateral de um prédio da Praça da República e outros ainda na Estação Sé do Metrô, em 1979, na Estação Barra Funda do Metrô, em 1989, no edifício da Cultura Inglesa, em 1995; e no Rio de Janeiro, na Estação Maracanã do Metrô Rio, em 1998.

 Comentário Crítico
Claudio Tozzi inicia a carreira como artista gráfico. Vence o concurso de cartazes para o 11º Salão Paulista de Arte Moderna, ocorrido em 1962. Em 1963, começa o curso de arquitetura, concluído em 1968, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP. Na época, pinta muito. Em seus trabalhos são encontrados símbolos da sociedade de consumo, que aparecem como imagens ou objetos. Utiliza sinais de trânsito, bandeiras, letreiros, peças publicitárias e histórias em quadrinhos, retira-os de seu contexto e atribui-lhes novos sentidos. É influenciado por Sérgio Ferro (1938), Flávio Império (1935-1985) e Maurício Nogueira Lima (1930-1999), em cujas obras se percebe a convergência entre a cartazística soviética, as vertentes construtivas e o vocabulário pop com finalidade política. Trabalhos como Usa e Abusa (1966) e Paz (1963) são característicos da época.

 A partir de 1967, apropria-se de trechos de histórias em quadrinhos e lhes dá sentido crítico, sob a influência do artista norte-americano Roy Lichtenstein (1923-1997), e realiza as telas Até que Enfim (1967) e Bandido da Luz Vermelha (1967). Ao mesmo tempo, faz trabalhos explicitamente engajados, como Guevara Vivo ou Morto (1967) e A Prisão (1968). Alguns deles são mostrados em exposições importantes, como a 9a. Bienal Internacional de São Paulo, em 1967, e coletivas em Londres e Buenos Aires. Em 1969, passa da crítica social para a pesquisa de formas, sobretudo da disposição gráfica e impessoal das figuras. Dessa reflexão, nascem as séries Astronautas, Presilhas e Parafusos.

 O curador Fábio Magalhães afirma que “as diversas abordagens do parafuso correspondem a um processo de reflexão sobre as possibilidades gráficas e metafóricas de um mesmo tema”.1 Em 1972, Tozzi realiza o painel Zebra, na praça da República, em São Paulo. Dois anos mais tarde, cria telas com materiais orgânicos, pigmentos e objetos distribuídos regularmente em caixas de acrílico. Algumas das obras são exibidas na mostra Cor/Pigmento/Luz, na Galeria Bonfiglioli, em São Paulo, em 1975. No ano seguinte, participa da Bienal de Veneza.

 Ainda na década de 1970, cria trabalhos mais conceituais, em que alia a pintura ao uso de palavras, como em Dissociação das Cores (1974) e Colors (1975), e realiza paisagens em que a aplicação reticulada de tinta cria zonas de cor regulares. Em 1979, realiza o mural da estação Sé do metrô, em São Paulo. O trabalho dá origem à série de pinturas Colcha de Retalhos, feitas com padrões diferentes de cor.

 Na década de 1980, o procedimento gráfico de pintar é utilizado na realização de abstrações geométricas. Em 1989, é publicada uma monografia sobre seu trabalho, com texto de Fábio Magalhães. Dois anos depois, expõe na 21ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 1993, apresenta individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ).

Clodomiro Amazonas

Clodomiro Amazonas Monteiro (Taubaté SP 1883 – São Paulo SP 1953).

Pintor e restaurador. Inicia-se em pintura aos 16 anos, realizando restaurações em telas e afrescos do Convento Santa Clara, em Taubaté. Estuda com o pintor Augusto Luís de Freitas (1868 – 1962) no fim da década de 1890. Interessado em promover atividades culturais, funda na cidade, em 1905, a Associação Artística e Literária. Passa a viver em São Paulo em 1906, quando entra em contato com a obra de Baptista da Costa (1865 – 1926) e tem aulas com o pintor Carlo de Servi (1871 – 1947). Paralelamente às atividades artísticas, trabalha em repartições públicas e atua como ilustrador para publicações como a Revista da Semana.

 A partir de 1924 dedica-se exclusivamente à pintura. Mantém contato com intelectuais, escritores e artistas como Monteiro Lobato (1882 – 1948), Menotti del Picchia (1892 – 1988), Lucílio de Albuquerque (1877 – 1939) e Georgina de Albuquerque (1885 – 1962) e Pedro Alexandrino (1856 – 1942), entre outros. É um dos fundadores do Salão Paulista de Belas Artes, em 1934. Torna-se principalmente pintor de paisagens paulistanas, utilizando óleo, aquarela, carvão e pastel.

 Comentário Crítico
No início de sua trajetória artística, Clodomiro Amazonas atua como restaurador e posteriormente dedica-se à ilustração de várias publicações, como A Revista da Semana. Torna-se um pintor essencialmente paisagista. Suas telas são conhecidas pelas vistas de matas fechadas, riachos e colinas com árvores coloridas do interior de São Paulo, como em Caminho com Jacarandá Paulista (1935). Mantém-se à parte das inovações do movimento modernista, permanecendo fiel a uma fatura mais tradicional. Sua produção permite a aproximação com a pintura de Baptista da Costa (1865 – 1926), pela maneira de representar a natureza e pela paleta harmoniosa.

 As obras do início da carreira de Clodomiro Amazonas apresentam pinceladas lisas e composições mais detalhadas. Posteriormente realiza uma fatura com pinceladas mais amplas, utilizando também a espátula. Como nota a historiadora da arte Ruth Tarasantchi, o artista trabalha com croquis nos locais, passando-os depois para a tela, no ateliê; outras vezes, usa registros de fotografias, tiradas por ele mesmo, e cartões-postais, como em Trecho da Praia de Itapuca, em Niterói. Os mesmos procedimentos e temas são empregados por outros artistas, como Wasth Rodrigues (1891 – 1957) e Oscar Pereira da Silva (1867 – 1939).

 Considerado pela crítica em sua época como o “verdadeiro pintor brasileiro”,1 Clodomiro Amazonas cria paisagens poéticas, em que se destacam exemplares da flora brasileira, como ipês, quaresmeiras e embaúbas, com perspectivas amplas e uma paleta de tons luminosos.

Clóvis Graciano

Clóvis Graciano (Araras SP 1907 – São Paulo SP 1988).

Pintor, desenhista, cenógrafo, gravador, ilustrador. Reside em São Paulo a partir de 1934.

Realiza estudos com o pintor Waldemar da Costa (1904 – 1982), entre 1935 e 1937. Em 1937, integra o Grupo Santa Helena, com Francisco Rebolo (1902 – 1980), Mario Zanini (1907 – 1971) e Bonadei (1906 – 1974) e outros. Freqüenta como aluno ouvinte o curso de desenho da Escola Paulista de Belas Artes, até 1938. Membro da Família Artística Paulista – FAP, em 1939 é eleito presidente do grupo. Participa regularmente dos Salões do Sindicato dos Artistas Plásticos e, em 1941, realiza sua primeira individual. Em 1948, é sócio-fundador do Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP.

Viaja para a Europa em 1949, com o prêmio recebido no Salão Nacional de Belas Artes. Permanece dois anos em Paris, onde estuda pintura mural e gravura. A partir dos anos 1950, dedica-se principalmente à pintura mural. Faz ilustrações de obras literárias, como o livro Cancioneiro da Bahia, de Dorival Caymmi (1914), publicado pela editora Martins, em 1947, e o romance Terras do Sem Fim, de Jorge Amado (1912 – 2001), pela editora Record, em 1987. Em 1971, assume o cargo de diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo – Pesp. De 1976 a 1978, exerce a função de adido cultural em Paris. Ao longo de sua carreira permanece fiel ao figurativismo, com o predomínio de temas sociais.

Comentário  crítico
Clóvis Graciano estuda pintura com Waldemar da Costa (1904 – 1982), e integra o Grupo Santa Helena em1937. Com o prêmio obtido no Salão Nacional de Belas Artes, em 1949, viaja para Paris, onde estuda gravura e pintura mural. Produz paisagens bastante construídas e naturezas-mortas cujas qualidades, no dizer do crítico Mário de Andrade (1893 – 1945), residem na singularidade do corte, na rapidez da execução e no grafismo sintético.

O artista revela admiração pela obra de Candido Portinari (1903 – 1962), em especial pela Série Bíblica, recorrendo à determinação espacial pós-cubista, em que os planos se superpõem, destruindo a representação ilusória da perspectiva e utilizando ainda o recurso da deformação das mãos e dos pés das figuras.

Nos anos 1940, a obra de Clóvis Graciano é marcada pela figura humana e pelos temas sociais, como o dos retirantes. Produz também auto-retratos, que revelam variáveis psicológicas, expressando tensões íntimas. Realiza ainda várias telas com temas de músicos e de dança. A partir da década de 1950, realiza várias pinturas murais, com destaque para as obras Armistício de Iperoig, na Fundação Armando Álvares Penteado – Faap (1962); Operário, na Avenida Moreira Guimarães (1979) e o painel no edifício do Diário Popular, inspirados em afrescos do Renascimento e desenvolvendo a narrativa em espaços construídos por planos geométricos.

Dani Cortez

Dani Cortez se formou em Artes Plásticas pela FAAP e se especializou na Itália em cursos de pintura abstrata, técnicas antigas de pintura e história da arte.

Seu trabalho é marcado por diferentes texturas e uso de materiais diversos com sobreposições de cores e formas criando assim profundidade.

Suas inspirações vem de artistas como Daniel Senise, Mark Rothko (1903 -1970), Gerhard Richter entre outros que abusam das cores e texturas para compor suas obras.

“A movimentação interna que motiva uma artista se mantém viva na proporção em que cada nova tela abre possibilidades de exploração de novos caminhos… e os trabalhos de Dani Cortez apresentam exatamente essa inquietação na forma de construir as camadas e no tratamento dado à cor como recurso plástico pleno em desafios e em infinitas possibilidades de interpretação. Não existe a hipótese de parar enquanto a artista sentir que há algo a dizer nas próximas produções, legítimas reflexões sobre a arte de pintar e de viver.”

Oscar D’Ambrósio

Danilo di Prete

Danilo di Prete (Pisa, Itália 1911 – São Paulo SP 1985).

Pintor, artista visual, ilustrador e cartazista.

Autodidata, inicia carreira aos 20 anos, na Itália. Integra, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Grupo de Artistas Italianos em Armas e, com eles, ilustra episódios da guerra na Albânia, Grécia e Iugoslávia. Sua pintura no período é figurativa, e entre os temas que explora fora do grupo predominam marinhas, naturezas-mortas e retratos. Chega ao Brasil em 1946, fixa-se em São Paulo, e por quatro anos dedica-se à atividade publicitária.

 Em 1951, participa da 1ª Bienal Internacional de São Paulo e conquista o prêmio nacional de pintura, com o quadro Limões. Motivado a trazer artistas do pós-guerra europeu ao Brasil, ele teria sugerido a Ciccillo Matarazzo (1898 – 1977) a idéia de uma bienal nos moldes da de Veneza. O artista não é citado por Yolanda Penteado (1903 – 1983), esposa de Matarazzo, em suas memórias, nem por Antonio Bivar, seu biógrafo, mas é consenso que ele atua no planejamento da exposição. Participa de outras doze bienais. Em 1965, volta a receber o prêmio nacional de pintura, na 8ª Bienal Internacional de São Paulo.

 Comentário Crítico
Embora às vezes trabalhe com composições futuristas, Danilo Di Prete está distante do universo temático desse movimento. Mas, segundo o crítico Mário Pedrosa, é influenciado pelos “esquemas colorísticos vibrantes do futurismo”. Ainda assim, algumas de suas pinturas, como Cogumelos, 1945, e Cabinas na Praia de Viareggi, 1946, ambas pertencentes ao Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, operam mais com transições entre tons escuros e a indefinição nas formas que essas transições sugerem do que com as cores fortes e superfícies delimitadas do futurismo.

 A obra Marinha, década de 1950, mostra um barco elevado por dois cavaletes na areia. O verde que toma parte do casco está em contraste com os tons quase pastel que preenchem a atmosfera, unindo de maneira sutil as formas da embarcação e da praia às cores e mudanças de tonalidades. Esse movimento de aproximação quase intimista do espectador à obra pode ser verificado de forma acentuada na tela Limões, vencedora, em 1951, do prêmio nacional de pintura da 1ª Bienal Internacional de São Paulo. Uma natureza-morta em que predomina o contraste entre a forma dos objetos e sua disposição na perspectiva do quadro, e entre a intensidade do verde e as transições tonais entre o ambiente, a mesa e os objetos dispostos sobre ela.

 A década de 1960 representa uma ruptura na trajetória do artista, que abandona o figurativismo e passa a criar exclusivamente telas abstratas. Igualmente radical é a mudança temática em sua obra. Seus quadros agora retratam superfícies planetárias, astros e o cosmos. Vale notar que a busca por uma pintura “planetária e cósmica” coincide com o início da corrida espacial empreendida pela União Soviética e Estados Unidos. Progressivamente, as pinturas vão ganhando arame, nylon, cano, lâmpada e outros objetos. Di Prete começa a usar suportes menos tradicionais, como caixas e superfícies plásticas, que conferem uma dimensão tátil à obra e mais peso a noção de movimento. A dinâmica das linhas torna-se mais ágil e os materiais de ferro, quando dobrados, provocam tensão no quadro de tal maneira que essas superfícies colocam os demais elementos em estado de quase agitação. Há algo de exaltação tecnológica nesse procedimento, lembrando a própria mecânica de foguetes e satélites, como é o caso do relevo Paisagem Cósmica 2, de 1967. O quadro é uma profusão de linhas e curvas que remetem aos mais variados corpos celestes. E se, por um lado, os objetos afixados na tela afirmam o novo horizonte científico que se abre na época, por outro, apontam para uma experiência artística, chamada por ele de “arte total”, cada vez mais evidente em sua obra.

 Se antes o movimento é fruto da tensão entre os objetos, os suportes e as formas no quadro, em meados da década de 1970, Di Prete o revela de forma mais aparente, ao incorporar saídas de ar, luzes, sons e outros apetrechos às obras. Os motores e aparelhos eletrônicos ainda reforçam a idéia de tecnologia, presente desde seus primeiros trabalhos abstratos, mas a questão central do artista agora é a busca por uma experiência na qual o espectador, imerso em luzes piscantes, sons e imagens, apreenda o movimento das formas que a pintura tradicional já não pode mais expressar.

Dionísio del Santo

Dionísio del Santo (Colatina ES 1925 – Vitória ES 1999).

Pintor, desenhista, gravador, serígrafo.

Estuda no Seminário São Francisco de Assis, em Santa Teresa, Espírito Santo, entre 1932 e 1939. No começo da década de 1940, realiza seus primeiros desenhos. Transfere-se para o Rio de Janeiro em 1946, onde começa a pintar. Freqüenta aulas de modelo-vivo e de teoria das cores na Associação Brasileira de Desenho – ABD. Atua em publicidade e artes gráficas. Em 1952, passa a trabalhar com xilogravura e serigrafia, e nesta técnica possui expressiva produção. Do fim dos anos 1950 até a metade da década seguinte, suas obras se aproximam dos princípios do movimento concreto. No entanto, mantém-se afastado do debate entre concretos e neoconcretos. Entre 1964 e 1966, produz trabalhos a guache, nos quais associa geometria e figura. Realiza sua primeira exposição individual, em 1965, na Galeria Relevo, no Rio de Janeiro. Desde a metade da década de 1960, dedica-se à arte abstrata, realizando principalmente obras em serigrafia. Em 1967, recebe o prêmio aquisição na 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Na década de 1970, destaca-se em sua produção pictórica a série Cordéis, na qual se nota a influência da arte cinética. Em 1975, recebe o Prêmio de Melhor Exposição de Gravura do Ano, da Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA. Realiza mostras retrospectivas no Paço Imperial, no Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, entre 1989 e 1990, e no Museu de Arte do Espírito Santo – Maes, em 1998. Mais de 70 obras do artista, entre serigrafias e xilogravuras, integram o acervo do Maes.

 Comentário crítico

 A obra de Dionísio del Santo situa-se entre a geometria e a figuração. No começo da década de 1950, realiza xilogravuras figurativas, que remetem à origem rural do artista. Começa a apresentar mais simplificação formal e o interesse pela geometria em suas pinturas. São dessa fase telas em vermelho, branco e negro, ou apenas em branco, nas quais constrói o espaço pictórico com poucas linhas.

Em serigrafias do fim da década de 1950 e começo da seguinte, cria formas geométricas por meio de linhas que percorrem toda a superfície gravada, explorando a contraposição entre cheio e vazio ou positivo e negativo. Dessas composições puramente lineares, como nota o crítico de arte Reynaldo Roels Jr., começam a aparecer versões diferentes, em que se altera o tratamento das linhas ou o jogo cromático. O artista trabalha por várias vezes as mesmas estruturas formais, diversificando as técnicas utilizadas, como desenho, pintura ou relevo pintado. Em algumas obras realizadas na década de 1970, insere cordas ou cordéis na superfície da composição. Esses trabalhos, que se encontram entre o relevo e a pintura, representam um ponto importante de suas pesquisas ligadas à arte cinética, revelando afinidade com a produção dos artistas venezuelanos Jesús Rafael Soto e Carlos Cruz-Diez.

 Sua atividade no campo da serigrafia é tão especial, como nota Roels, que merece um destaque particular em sua trajetória. O artista explora a técnica com grande refinamento e utiliza-a também como um campo experimental para suas produções. Ministra diversos cursos em que incentiva o uso da serigrafia, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage. Na década de 1990, Del Santo começa a trabalhar com formas mais complexas e uso intenso da cor.

Doris Geraldi
Doris Geraldi, nascida em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, sempre foi atraída pela música, pelo corpo e pelo movimento.
Transferindo-se para o Rio de Janeiro, criou a Escola de Ballet Clássico Corpo Livre, que funcionou durante quase 3 décadas, contribuindo para a formação e desenvolvimento de inúmeros bailarinos. Atualmente dedica-se a criação plástica no domínio da escultura, em seus dois ateliês – Rio de Janeiro e Búzios – utilizando como materiais o bronze, a resina, o resimármore e a cerâmica.
O corpohumano, sobretudo o feminino, e as figuras mitológicas são seus temas eletivos e ela procura imprimir nessas peças, muitas vezes pesadas, a leveza das formas e dos movimentos. Em algumas, os corpos se sucedem, uns encima dos outros, criando um conjunto harmonioso.
Élon Brasil

Élon Brasil (1957 – )

Élon Brasil (Niterói – RJ) é um artista plástico brasileiro auto-didata.

Na praia de Jurujuba, aos seis anos de idade, começou a rabiscar seus primeiros crayons. Mudou-se em 1968 para São Paulo, onde aos doze anos ganhou sua primeira medalha de ouro na II PINARTE de Pinheiros.

Em 1970, juntamente com os artista Aldemir Martins, Clóvis Graciano e Carlos Scliar, Élon ilustrou o livro de poesias Cantando os Gols, de Tito Battine.

Hoje, sua obra figurativa e abstrata é composta por imagens da terra: índios, negros e caboclos, cercados por textura e cores marcantes. Sua temática busca ressaltar e preservar a cultura brasileira e suas próprias raízes.

Filho de baianos – mãe negra, neta de índios, e pai (o artista Milton Brasil), neto de imigrantes italianos e portugueses – Élon resgata em sua história e origem, a fonte de inspiração. Ao morar na Suíça por seis meses, obteve a oportunidade de expôr o seu trabalho em diversas ocasiões, tornando-se conhecido internacionalmente, principalmente com encomendas para colecionadores europeus.

Possui obras em acervos importantes como o Museum der Kulturen Basel – Basiléia – Suíça, no Museu da Imagem e do Som – São Paulo – SP, no Museu do Banco do Estado de São Paulo – SP e no Museu de Arte de Londrina – PR.

Emiliano Di Cavalcanti

Emiliano Di Cavalcanti (1897 – 1976)

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Rio de Janeiro RJ 1897 – idem 1976). Pintor, ilustrador, caricaturista, gravador, muralista, desenhista, jornalista, escritor e cenógrafo. Inicia sua carreira artística como caricaturista e ilustrador, publicando sua primeira caricatura em 1914, na revista Fon-Fon. Em 1917, reside em São Paulo, onde frequenta o curso de Direito no Largo São Francisco e o ateliê de Georg Elpons (1865-1939). Convive com artistas e intelectuais paulistas como Oswald de Andrade (1890-1954) e Mário de Andrade (1893-1945), Guilherme de Almeida (1890-1969), entre outros. Em 1921, ilustra A Balada do Enforcado, de Oscar Wilde (1854-1900), e publica o álbum Fantoches da Meia-Noite, editado por Monteiro Lobato (1882-1948). É o idealizador e o principal organizador da Semana de Arte Moderna de 1922, na qual expõe 12 obras. Em 1923, faz sua primeira viagem à França, onde atua como correspondente do jornal Correio da Manhã. Em Paris, freqüenta a Academia Ranson, instala ateliê e conhece obras, artistas e escritores europeus de vanguarda como, Pablo Picasso (1881-1973), Georges Braque (1882-1963), Fernand Léger (1881-1955), Henri Matisse (1869-1954), Jean Cocteau (1889-1963)  e Blaise Cendrars (1887-1961).

Volta a São Paulo em 1926, trabalha como jornalista e ilustrador no jornal Diário da Noite. A estada em Paris marca um novo direcionamento em sua obra. Conciliando a influência das vanguardas européias com a formulação de uma linguagem própria; adota uma temática nacionalista e preocupa-se com a questão social. No ano de 1928, filia-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB). Em 1931, participa do Salão Revolucionário e, no ano seguinte, funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho (1899-1973), Antonio Gomide (1895-1967) e Carlos Prado (1908-1992), o Clube dos Artistas Modernos (CAM). Em 1933, publica o álbum A Realidade Brasileira, uma sátira ao militarismo da época.

Em 1938 viaja a Paris, onde trabalha na rádio Diffusion Française nas emissões Paris Mondial. Retorna ao Brasil em 1940, trabalha como ilustrador, e publica poemas e memórias de viagem. Em 1972, seu álbum 7 Xilogravuras de Emiliano Di Cavalcanti é editado pela Editora Chile.

Comentário Crítico

Di Cavalcanti começa a trabalhar como ilustrador em 1914, no Rio de Janeiro, e publica sua primeira caricatura na revista Fon-Fon. Em 1917, muda-se para São Paulo, onde, além de frequentar a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, realiza sua primeira exposição individual de caricaturas e faz ilustrações e capas para a revista O Pirralho.

A efervescência cultural em alguns círculos modernos de São Paulo e a exposição de Anita Malfatti (1889-1964) levam-no a retomar o estudo, iniciado no Rio de Janeiro, de pintura com Georg Elpons. Em suas primeiras obras, utiliza tons pastel e retrata personagens mergulhados na penumbra, misteriosos, como Figura, 1920 e Mulher em Pé, ca.1920, o que faz com que Mário de Andrade o chame de “menestrel dos tons velados”.

Em 1921, ilustra A Balada do Enforcado, de Oscar Wilde, e publica o álbum Fantoches da Meia-Noite, no qual enfoca o universo boêmio e os tipos da noite: bêbados, vigias e prostitutas. Seu desenho revela a influência do ilustrador inglês Aubrey Vincent Beardsley e caracteriza-se pela linha leve, alongada e sinuosa e pelo uso de elementos decorativos, ao estilo art nouveau.

Nesse período, torna-se amigo de intelectuais paulistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida, sendo sua a idéia da Semana de Arte Moderna de 1922, para a qual cria o catálogo e o cartaz. Em 1923, viaja para Paris, onde freqüenta a Académie Ranson. A viagem possibilita-lhe o contato com importantes pintores contemporâneos como Pablo Picasso, Georges Braque, Fernand Léger e Henri Matisse, influências que transparecem em suas obras, trabalhadas em uma linguagem muito pessoal.

Retorna ao Brasil em 1925.

Passa a apresentar em sua pintura um uso mais acentuado da cor, iluminando a sua paleta. O diálogo intenso com a obra de Pablo Picasso pode ser observado no porte volumoso e monumental dos personagens ou no tratamento dado às mãos e aos pés das figuras, como, por exemplo, em Modelo no Ateliê, 1925 ou Cinco Moças de Guaratinguetá, 1930. O artista revela a formulação de seu estilo na utilização de formas simplificadas e curvilíneas e cores quentes, em especial vários tons de vermelho, trabalhadas em uma poética lírica.

Em 1928, ingressa no Partido Comunista. Nos anos seguintes, demonstra ser um artista inquieto com os problemas sociais. O contato com o expressionismo alemão, com sua ácida crítica social, e principalmente com a obra de George Grosz, pode ser visto em trabalhos, como por exemplo, Mulher Ruiva, 1931 e Retrato de Noêmia, 1936. A vertente social e nacionalista, com temáticas ligadas a um certo cotidiano do povo – a favela, o malandro, o samba, os pescadores, os bares, as prostitutas e a boêmia -, ambientadas no Rio de Janeiro, permanecerá constante em toda sua obra, como em Samba, 1925, Scène Brésilienne [Cena Brasileira], 1937/1938, Três Raças, 1941 e  Carnaval no Morro, 1963.

Em 1932, funda em São Paulo, com Flávio de Carvalho, Antonio Gomide e Carlos Prado, o Clube dos Artistas Modernos (CAM). No ano seguinte, publica o álbum A Realidade Brasileira, série de 12 desenhos, nos quais enfoca criticamente a sociedade e seus dirigentes. Escreve ainda um artigo para o Diário Carioca sobre a exposição de Tarsila do Amaral (1886-1973), no qual ressalta a relação entre a produção artística e o compromisso social. A década de 1940 marca sua maturidade artística e o reconhecimento público no cenário da arte moderna brasileira. Defensor ardoroso da arte figurativa, em 1948 pronuncia uma conferência no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Os Mitos do Modernismo, publicada na revista Fundamentos, sob o título Realismo e Abstracionismo, posicionando-se a favor de uma arte nacional e contra o abstracionismo, tendência que começava a expandir-se no país.

Di Cavalcanti, entre outros artistas do modernismo, esteve atento, em sua produção, à formação de um repertório visual ligado à realidade brasileira. Apesar do contato com a produção artística contemporânea em sua vivência parisiense e do especial diálogo que mantém com as obras de Paul Cézanne e Pablo Picasso, ele aplaina e nivela as linguagens modernas em seus trabalhos. Entende a arte principalmente como uma forma de participação social. Assim, valoriza em sua produção os temas de caráter realista e voltados à construção da identidade nacional, como a representação das mulatas ou do carnaval.

Fernando Durão

Fernando Durão

Nasce na cidade do Porto, Portugal em 29 de maio de 1952.
Desde cedo demonstra vocação para as artes plásticas e visuais, dedicando-se à pintura, ilustração, criação de capas de livros, desenho de estamparia.

Neste período frequenta a Escola de Belas Artes Soares dos Reis que se diferencia do ensino padrão pelo enfoque nas artes visuais.

Em 1969, devido a guerra colonial com Angola e à ditadura no continente português, sua família muda-se para o Brasil, Rio de Janeiro, onde dá continuidade à sua vocação, frequentando ateliers de jovens artistas, participando de exposições de pintura e fazendo desenho de cartazes.

Em 1970, transfere-se para São Paulo onde sua carreira como artista visual cresce rapidamente com exposições em importantes locais como: MASP – Museu de Arte de São Paulo, Bienal Nacional de São Paulo, MACC – Museu de Arte Contemporânea de Campinas, Museu de Arte Brasileira, Fundação Memorial da América Latina, etc., e vem realizando exposições individuais em renomadas galerias e museus no Brasil e exterior ( Portugal, Alemanha, Argentina, Itália e outros).

Desde 1977, dirige galerias de arte, espaços culturais, realiza inúmeros projetos como curador e artista visual, e escreve sobre artes visuais (plásticas e fotográficas) em jornais, revistas e catálogos de exposições. Participa também, de inúmeros salões de artes plásticas e fotográficas, como membro de júri, em diversas cidades do Estado de São Paulo.

Desde 1999 recebe convites para participar de comissões de arte da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e do Museu Brasileiro da Escultura-MUBE.

Realiza, com frequência, viagens para o exterior para divulgação de sua obra em exposições, intercâmbio cultural com artistas e atualização dos movimentos culturais no cenário internacional na Europa e América Latina.

Gregory Fink

Gregory Fink

Gregory Fink é um artista conhecido no Brasil, que já realizou exposições individuais em São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Chicago, Princeton e Detroit. Além disso, já mostrou seu trabalho na Inglaterra, França, Itália e Suíça. Seus trabalhos podem ser encontrados em acervos de vários museus, bem como em outros acervos importantes do mundo todo. Recebeu o Grand Prix em Paris por sua exposição naquela cidade. Ganhou o primeiro prêmio no Festival dos Três Mundos na Itália e a Medalha de Ouro na Galeria Internacional de Artistas, também na Itália. Sua técnica é única, como o seu uso de folha de ouro e prata, unindo suas cores e figuras finamente gravadas. Sua obra e influenciada por uma união da espiritualidade afro-brasileira com a oriental.

A formação cultural de Gregory Fink é vasta. Através dela além dela, faz da pintura seu veículo de expressão artística, extrapolando o limite dos limites. Cada obra de Fink é um universo paralelo, grávido de elementos arquetípicos, que nos faz refletir sobre a existência de outras realidades, aparentemente envoltas em brumas, porém reveladas subitamente através de uma pintura caleidoscópica. Em cada quadro seu existe a possibilidade latente de múltiplas leituras metafísicas ou, se quiserem, metapsíquicas.

Definitivamente, não é uma obra comum. Misticismo oriental, figuras incógnitas, como que extraídas de um conto de Borges, semideuses do panteísmo hindu, rostos estranhos dotados de um encanto sedutor, e cromatismos sinfônicos (além de infinitas e estranhas imagens), são elementos que compõem uma hipnótica melodia intrinsecamente ligada às esferas pitagorianas. A obra de Fink é, antes de tudo, voltada para os iniciados. No Gita, há uma passagem que diz: “Se mil sóis explodissem simultaneamente, talvez fosse possível imaginarmos o poder do Santíssimo”. As obras de Gregory Fink, com certeza, fariam partes dessa explosão. – Carlos Roque.

A obra de Gregory Fink é variada e magnífica. Ele pesquisa o ser humano. Penetra-lhe a anatomia física e espiritual. Em suas figuras anônimas, há o signo trágico e substancial do homem que se expressa por parábolas. Há também os mistérios dos rostos e regaços maternos envolvendo a criança: dos personagens do medieval e da ansiedade do homem contemporâneo que estremece diante de sua condição humana. Toda uma espécie de forma, solidez, de repente ultrapassa o tom real e se mitifica, desbanecedoramente, no rigor dos traços. Homens, mulheres, crianças ou guerreiros são fantasmas de um tempo milenar, impondo-se no ardor de agora.

Mesclam-se, diluem-se. São parte dessa humanidade atômica e insensata. Mas entre o macabro e o desafio desabrocham flores primaveris e apelos ao amor.

Onírico, selvagem, trágico, mórbido, abstrato, realista, oculta-se num labirinto poético. Emerge da beatitude de Francisco de Assis para as mulheres exóticas vestidas de vermelho e dourado. Penetra torres e castelos e da sua fortaleza inexpugnável compõe uma ode à pintura contemporânea. De repente, é o cavaleiro de escudo e manopla a galopar num cavalo de flancos de ouro, mesmo reconhecendo que o homem é uma paixão inútil. Comparo Gregory Fink ao alquimista que, fechado em seu laboratório, gradua o fogo à espera do resultado da obra. E, ao olhar o cálice, de repente estremece ao ver, no fundo, a estrela que refulge.

Gustavo Rosa

Pintor, desenhista, gravador e artista plástico, Gustavo Machado Rosa foi um artista autodidata, nasceu em 20 de dezembro de 1946, na cidade de São Paulo, iniciou sua experiência com a pintura na infância, conseguiu enxergar com sensibilidade o irreverente, o humor, o delicado, o grotesco e o belo, trasnpondo-os com traços definidos, singelos, diretos e claros. Suas obras são brasileiras e universais, contam a realidade irônica e poeticamente ao mesmo tempo.
O seu universo plástico apresenta semântica própria. Seu humor não é prosaico e anedótico. Ele emprega a substância do traço, da forma e da cor. Suas imagens não necessitam de legendas significam a postura do artista diante da vida, uma maneira de ver, de aprender e de apreciar a existência humana. O humor da pintura de Gustavo Rosa é reflexo da liberdade de viver e criar do artista, que acredita ser a imaginação mais poderosa que acredita ser mais poderosa que o ser humano.

 Em 1966 teve sua primeira experiência ao participar de uma exposição coletiva na FAAP. Em 1968 ganhou prêmio “medalha de ouro” (pintura) e viagem à  Europa no “Primeiro Festival de Artes Interclubes”, em São Paulo.

“A liberdade é muito boa de um lado, mas ruim por outro: às vezes, você fica solitário. Mas pelo menos fiz meu trabalho, calquei uma área minha, sem copiar de ninguém. Acho que isso é a essência da minha carreira”
Gustavo Rosa – Jornal O Estado de São Paulo

 Realiza a sua primeira exposição individual na Galeria Alberto Bonfiglioli em 1970, tendo já ganho no ano anterior a medalha de ouro e o prêmio de viagem ao exterior no 1º Festival de Artes Interclubes, no Clube Monte Líbano. Em 1974, estuda gravura com o norte-americano Rudy Pozzati, no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado – MAB/Faap. Em 1979 e 1980 participa da Exposição Brasil-Japão em Tóquio. Expõe, em 1979, no Salão Nacional de Artes Plásticas e, em 1980 e 1983, no Panorama da Arte Atual Brasileira, no MAM/SP.

Realiza painéis externos, em 1984 na Rua Bela Cintra e em 1987, na Rua Mario Ferraz, para Tereza Gureg. Em 1990 participa de exposição coletiva no International Museum of 20th Century Arts, em Los Angeles, Estados Unidos. Lança, em 1994, uma grife com o seu nome em Nova York. Em 1998, desenvolve as capas de cadernos escolares da marca Tilibra. Neste mesmo ano executa uma escultura em homenagem a Maria Esther Bueno, na Praça Califórnia, em São Paulo. Em 2000, monta escultura de um gato, sob o Viaduto Santa Efigênia.

Gustavo Rosa lançou os livros “Pintando Um Mundo Melhor com Gustavo Rosa”, “Gustavo Rosa”, “Sem Raça, Com Graça” e ilustrou “A Melhor Seleção do Mundo”.

Viveu seus últimos 14 anos lutando bravamente contra um câncer no pâncreas e faleceu em 12 de Novembro de 2013.

Hércules Barsotti

Hércules Barsotti (1914- 2010)

Hércules Rubens Barsotti (São Paulo-SP 1914 – idem 2010). Pintor, desenhista, programador visual, gravador. Inicia formação artística em 1926, sob orientação do pintor Enrico Vio (1874-1960), com quem estuda desenho e composição. Em 1937, forma-se em química industrial pelo Instituto Mackenzie. Começa a pintar em 1940 e, na década seguinte, realiza as primeiras pinturas concretas, além de trabalhar como desenhista têxtil e projetar figurino para o teatro. Em 1954, com Willys de Castro (1926-1988), funda o Estúdio de Projetos Gráficos, elabora ilustrações para várias revistas e desenvolve estampas de tecidos produzidos em sua tecelagem. Viaja a estudo para a Europa em 1958, onde conhece Max Bill (1908-1994), então um dos principais teóricos da arte concreta.

Na década de 1960, convidado por Ferreira Gullar (1930), integra-se ao Grupo Neoconcreto do Rio de Janeiro e participa das exposições de arte do grupo realizadas no Ministério da Educação e Cultura (MEC), no Rio de Janeiro, e no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Em 1960, expõe na mostra Konkrete Kunst [Arte Concreta], organizada por Max Bill, em Zurique. Hercules Barsotti explora a cor, as possibilidades dinâmicas da forma e utiliza formatos de quadros pouco usuais, como losangos, hexágonos, pentágonos e circunferências. Em sua obra a disposição dos campos de cor cria a ilusão de tridimensionalidade. Entre 1963 e 1965, colabora na fundação e participa do Grupo Novas Tendências, em São Paulo. Em 2004, o MAM/SP organiza uma retrospectiva do artista.

Comentário Crítico

Hércules Barsotti estuda desenho e composição no colégio Dante Alighieri, em São Paulo, com orientação do pintor figurativo italiano Enrico Vio, de 1926 a 1933. Depois faz o curso de química industrial, que conclui em 1937, e atua na área até 1939. A partir dos anos 1940 resolve dedicar-se à pintura. Frequenta, por curto espaço de tempo, o ateliê do artista Dario Mecatti (1909-1976) e faz naturezas-mortas e telas de influência surrealista. Em meados dos anos 1950, se desinteressa pela cópia da natureza1 e passa a realizar desenhos abstrato-geométricos com nanquim. Nesses trabalhos, feitos a partir de 1953, divide a superfície em formas geométricas regulares, delineadas por linhas negras, de larguras e direções diferentes. A posição do traço, a distância e a justaposição das formas criam a ilusão de deslocamento dos planos, sugerindo uma superfície tensa e quebradiça. Em 1953, ele projeta figurinos, com Luís de Lima (1929-2002) e Badia Vilato, para o espetáculo de mímica O Escriturário, baseada em Bartleby, de Hermann Melville. A peça, encenada no Teatro Cultura Artística, é dirigida por Luís de Lima com o grupo de atores da Escola de Arte Dramática (EAD), em São Paulo.

Em 1954, Barsotti abre escritório de projetos gráficos com Willys de Castro. A ligação com Willys e o contato com uma lógica industrial de trabalho aproximam-no ainda mais das poéticas concretas. Então começa a atuar como artista gráfico e cria estampas para tecidos. A objetividade peculiar do concretismo, no entanto, só aparece em sua pintura a partir de 1957. Barsotti simplifica sua pintura e passa a utilizar formas geométricas impessoais, em preto e branco. Esses elementos evitam as marcas do pincel e, se articulando em série, sugerem volumes virtuais. No entanto, Barsotti não adere a nenhum grupo de vanguarda nem assina nenhum manifesto concretista. Expõe trabalhos na 4ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 1958, Barsotti ganha a pequena medalha de prata do Salão Paulista de Arte Moderna e parte para a Europa com Willys de Castro. Lá estuda e visita Itália, Suíça, Espanha e Portugal. Durante a viagem o pintor conhece Max Bill (1908-1994), que será decisivo em sua pintura.

Ao voltar para o Brasil, em 1959, Barsotti realiza sua primeira exposição individual, na Galeria de Artes das Folhas. Nesse período, seu trabalho fica ainda mais austero. O artista pinta sobre superfícies homogêneas – pretas ou brancas – faixas que se afinam no centro ou nas margens da tela, dispõe elementos sugerindo diagonais que produzem a impressão de curvatura na superfície da tela. Sua pintura passa a trabalhar o quadro como um objeto que será desenvolvido como algo dúbio, um plano que sugere um volume. Esse movimento aparece pela primeira vez em telas como Branco/Preto (1960) e Preto/Branco/Preto (1960).

Esta abordagem o aproxima do Grupo Neoconcreto. Com o Grupo, expõe em 1960 no Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1961. Ainda em 1960, ele mostra seus trabalhos na exposição Konkrete Kunst [Arte Concreta], organizada por Max Bill, em Zurique. Junto com a aproximação ao neoconcretismo, Barsotti retorna à tendência de progressiva austeridade em sua pintura. Em meados dos anos 1960, incorpora a areia como fonte de brilho e de densidade física de suas pinturas. A partir de 1963, abandona a fé ortodoxa no preto e branco concreto, e consegue importar seus primeiros tubos coloridos de tinta acrílica. O formato da tela determina a estrutura interna dos trabalhos. O artista produz quadros em formatos hexagonais, redondos e pentagonais. Em 1963, desenha, com Willys de Castro, o logotipo da Galeria Novas Tendências, fundada e gerida pelo grupo concreto de São Paulo.

Desde 1964, Barsotti desenvolve pinturas em que sequências regulares de cores se sucedem sugerindo certo volume nas telas de formatos pouco usuais. Realiza individual, em 1965, na Galeria Novas Tendências, em seu último ano de funcionamento. Nas pinturas realizadas durante os anos 1970, como Núcleo Aberto (1971), dá continuidade às pesquisas realizadas na década anterior. Em alguns trabalhos, sugere um relevo virtual que aumenta das bordas ao centro da tela. O uso das cores e das sugestões de volume aproxima estas obras da optical art. A partir da década de 1990, volta a simplificar suas pinturas, reduz o número de cores e as aproxima. Em 1998, o Escritório de Arte Sylvio Nery da Fonseca, em São Paulo, faz uma retrospectiva dos desenhos de Barsotti feitos durante a década de 1950. Em pinturas mostradas na mesma galeria, em 2002, o artista retoma o uso da areia.

Iberê Camargo

Iberê Camargo (1914 – 1994)

Iberê Camargo iniciou seus estudos ainda no Rio Grande do sul, na Escola de Artes e Ofícios de Santa Maria, com Parlagreco e Frederico Lobe. Já em Porto Alegre estudou pintura com João Fahrion. Em 1942 ele chegou ao Rio de Janeiro, onde cursou a Escola Nacional de Belas Artes. Mas, insatisfeito com a metodologia ali adotada, juntou-se a outros artistas, também insatisfeitos, e com seu professor de gravura, Alberto da Veiga Guignard, para fundar o “Grupo Guignard”. Em 1953 tornou-se professor de gravura no Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro, lecionando mais tarde essa técnica em seu próprio ateliê ou em permanências mais ou menos longas em Porto Alegre e em outras cidades, inclusive do exterior. Em Porto Alegre, foi um dos grandes incentivadores do Atelier Livre.

Embora Camargo tenha estudado com figuras marcantes representativas de variadas correntes estéticas e formas de vista, não se pode afirmar que tenha se filiado a alguma. Suas obras estiveram presentes, e sempre reapresentadas, em grandes exposições pelo mundo inteiro, como na Bienal de São Paulo e na Bienal de Veneza. Iberê Camargo foi uma grande referencia para a arte gaúcha e brasileira em geral.

Prisão

No dia 5 de dezembro de 1980 ocorreu uma tragédia na vida de Iberê Camargo. O pintor matou a tiros o engenheiro Sérgio Alexandre Esteves Areal, de 32 anos. Uma versão diz que o homem discutia com uma mulher quando Camargo se intrometeu. Após uma luta, o pintor teria atirado no engenheiro. Segundo a Fundação Iberê Camargo, ele passou um mês preso e foi absolvido por legítima defesa. 1 Ao ser absolvido, em 1982, ele volta a viver em Porto Alegre. A pintura que começa a fazer depois ganha tom dramático. A princípio, insere figuras humanas que convivem, em grandes telas, com signos mais corriqueiros de sua obra. Ele se retrata em meio a carretéis e cubos.

Vida pessoal

Iberê Camargo não gostava de cachorros nem de crianças e teve apenas uma filha, Gerci, fruto de um romance passageiro na década de 1944. Gerci Camargo deu-lhe dois netos, Carlos Iberê e Doralice, e três bisnetos, Roberta, Fernando e Maissa. Iberê renovou as amizades, mas encontrou o verdadeiro companheirismo em 1983, no gato Martim, o seu “cucuruco”, como o chamava. O pintor colocava o bichano no bolso do macacão enquanto preparava seus quadros e fazia questão de que sua esposa, Maria Coussirat Camargo, pusesse um prato de comida para o gato na mesa de jantar. “O animal é melhor do que o homem, que hoje come na tua mesa e amanhã te faz velhacaria”, comparava.

FUNDAÇÃO

Em 1995, no ano seguinte à sua morte, foi criada a Fundação Iberê Camargo, com sede na antiga moradia do artista, no bairro Nonoai, para conservar, catalogar e promover obra de Iberê. Mais tarde, a sede mudou-se para o bairro Cristal, em um prédio projetado pelo renomado arquiteto português Álvaro Siza.

Inos Corradin

Inos Corradin (1929 – )

Pintor, escultor, cenógrafo, gravador, desenhista.

Nasceu em Vogna, na Itália, 1929. Estudou em Castelbaldo com Tardivello, e ao se mudar em 1950 para o Brasil fixou-se em Jundiaí. Desde 1952 participou de mostras coletivas como o Salão Paulista de Arte Moderna e o Salão Nacional de Arte Moderna, e entre 1954 e 1955 dedicou-se à cenografia. Já expôs individualmente na Itália, Israel, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Holanda e Canadá, além de, naturalmente, em várias cidades brasileiras. É pintor de paisagens, figuras e naturezas-mortas, praticando uma arte jocosa e humorada, tendendo à estilização e com bons recursos cromáticos. Vogna, Itália, 14/11/1929.

Já expôs individualmente na Itália, Israel, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Holanda e Canadá, além de, naturalmente, em várias cidades brasileiras. É pintor de paisagens, figuras e naturezas-mortas, praticando uma arte jocosa e humorada, tendendo à estilização e com bons recursos cromáticos. Tudo isso, e certo tom bem-humorado observável em sua produção, transformaram-no num dos favoritos do mercado de arte.

Em suas obras a figura humana assume a forma dos bonecos articulados, disfarçando no sal do humor o desacerto e a perplexidade do homem contemporâneo. O conteúdo lírico desta pintura avança na progressão direta da pesquisa construtiva da composição, no filtro geometrizado pelo qual as formas são medidas, transformando o visível numa espécie de equação luminosa. Assumindo, ainda, mais uma cenografia e um disfarce que refaz o timbre jocoso da Commedia Dell´Arte, Inos Corradin integra nesta dicção plástica a paisagem e o homem brasileiro, nivelando todas as referências sob o prisma de uma linguagem muito pessoal. Coexiste nele, ainda, um desenhista de humor empenhado talvez numa tarefa especial de identificar o instante com um desanuviado otimismo.

Ivald Granato

Ivald Granato Filho (Campos, Rio de Janeiro, 1949 – São Paulo, São Paulo, 2016).

Pintor, gravador, desenhista e artista multimídia. Em 1966, estuda pintura com Robert Newman. Depois, freqüenta por um breve período a Escola de Belas Artes. Desde a década de 1970, realiza performances e intervenções, recorrendo à fotografia e ao vídeo para documentá-las. Por duas vezes, em 1979 e em 1982, obtém o prêmio melhor desenhista do ano pela Associação Paulista dos Críticos de Arte – APCA. No início da década de 1980, participa de eventos com a Banda Performática, do artista José Roberto Aguilar, que associa pintura, música, teatro e circo. Realiza a exposição Ivald Granato: Desenhos 1964-2000, no Museu Nacional de Belas Artes – MNBA, no Rio de Janeiro, em 2002, e no Museu Brasileiro da Escultura – MuBE, em São Paulo, em 2003. Em sua produção são freqüentes as referências autobiográficas.

 Comentário crítico
Ivald Granato começa a pintar muito cedo, inspirando-se em obras cubistas. Por um breve período, a partir de 1967, cursa a Escola Belas Artes, no Rio de Janeiro. Na década de 1970, produz obras que apresentam imagens viscerais ou fálicas.

Granato realiza pinturas nas quais trabalha com pinceladas rápidas, criando figuras de contornos imprecisos, associadas a signos, grafites, grafismos e manchas.  Produz várias séries de obras, mudando o estilo da composição a cada tema tratado. Sua obra destaca-se pela espontaneidade e vivacidade, apresentando pinceladas vibrantes e, muitas vezes, tintas escorridas. Em seu trabalho, está sempre presente o traço autobiográfico, como em Auto-Retrato no Quadro, 1973.  Já na tela Gata, 1982, o artista se aproxima da arte pop, empregando cores muito contrastantes, como também ocorre em My Friends, 1985. Granato apresenta obras que reúnem as referências ao cotidiano, o caráter fantástico e o erotismo. Desde os anos 1970, o artista realiza também várias performances.

Jorge Guinle Filho

Jorge Guinle Filho (1947  1987)

Jorge Guinle Filho (Nova York, Estados Unidos 1947 – idem 1987). Pintor, desenhista e gravador. Muda-se com a família para o Brasil ainda no ano de seu nascimento e permanece no Rio de Janeiro até 1955. Desse ano até 1962, acompanhando a mãe, mora em Paris e, em seguida, em Nova York, onde reside até 1965. Na França, em paralelo a sua formação regular, inicia, como autodidata, estudos de pintura e freqüenta museus e galerias de arte, prática que mantém quando se transfere para os Estados Unidos. O contato com obras tanto de mestres da pintura como de artistas contemporâneos são marcantes em sua formação. É influenciado, de forma especial, pelas obras do pintor francês Henri Matisse (1869 – 1954) e pela action painting e arte pop norte-americanas. De 1965 a 1974 vive no Rio de Janeiro e passa temporadas em Londres e Paris, cidade para onde retorna nesse último ano e se estabelece por mais três anos. Em 1977, volta a residir no Rio de Janeiro.

Seu trabalho ganha repercussão e, na década de 1980, integra as principais exposições de arte do país. A produção do artista, concentrada em seus últimos sete anos de vida, é dedicada sobretudo à pintura, que chama atenção pelo vigor e pela intrincada referência que faz aos movimentos artísticos modernos e contemporâneos. Jorge Guinle é um importante incentivador da revalorização da pintura promovida pelo grupo de jovens artistas conhecido como Geração 80. Participa da mostra Como Vai Você, Geração 80.

Na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, 1984, escreve um texto para a edição especial da revista Módulo dedicada a essa mostra, participa de várias exposições e eventos realizados por esses artistas e escreve sobre suas obras.

Assim como o pai, também foi um amante do jazz.

Após a sua morte, por AIDS, o seu companheiro, Marco Rodrigues, entrou na justiça brasileira para receber parte dos seus bens. Este foi um dos primeiros casos jurídicos, no país, sobre união estável entre homossexuais.

José Antônio da Silva

José Antônio da Silva (Sales de Oliveira SP 1909 – São Paulo SP 1996).

Pintor, desenhista, escritor, escultor, repentista.

Trabalhador rural, de pouca formação escolar, é autodidata. Em 1931, muda-se para São José do Rio Preto, São Paulo. Participa da exposição de inauguração da Casa de Cultura da cidade, em 1946, quando suas pinturas chamam atenção dos críticos Lourival Gomes Machado (1917-1967), Paulo Mendes de Almeida (1905-1986) e do filósofo João Cruz e Costa.

José Antônio da Silva (Sales de Oliveira SP 1909 – São Paulo SP 1996). Pintor, desenhista, escritor, escultor, repentista. Trabalhador rural, de pouca formação escolar, é autodidata. Em 1931, muda-se para São José do Rio Preto, São Paulo. Participa da exposição de inauguração da Casa de Cultura da cidade, em 1946, quando suas pinturas chamam atenção dos críticos Lourival Gomes Machado (1917-1967), Paulo Mendes de Almeida (1905-1986) e do filósofo João Cruz e Costa.

 Dois anos depois, realiza mostra individual na Galeria Domus, em São Paulo. Nessa ocasião Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), adquire seus quadros e deposita parte deles no acervo do museu. O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) edita seu primeiro livro, Romance de Minha Vida, em 1949. Na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, recebe prêmio aquisição do Museum of Modern Art (MoMA) [Museu de Arte Moderna] de Nova York. Em 1966, Silva cria o Museu Municipal de Arte Contemporânea de São José do Rio Preto e grava dois LPs, ambos chamados Registro do Folclore Mais Autêntico do Brasil, com composições de sua autoria. No mesmo ano, ganha Sala Especial na 33ª Bienal de Veneza. Publica ainda os livros Maria Clara, 1970, com prefácio do crítico literário Antônio Candido (1918); Alice, 1972; Sou Pintor, Sou Poeta, 1982; e Fazenda da Boa Esperança, 1987. Transfere-se de São José do Rio Preto para São Paulo, em 1973. Em 1980, é fundado o Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva (MAP), em São José do Rio Preto, com obras do artista e peças do antigo Museu Municipal de Arte Contemporânea.

 Comentário Crítico
Autodidata de formação, José Antônio da Silva exerce várias atividades, entre elas a de trabalhador rural, até o seu trabalho como artista ser descoberto em 1946, durante exposição na Casa de Cultura, em São José do Rio Preto, despertando o interesse de críticos de arte que participavam do evento.

Suas primeiras pinturas possuem cores frias e escuras. A partir de 1948, realiza paisagens de caráter mais lírico, empregando uma gama cromática mais viva e variada. Expõe nas três primeiras edições da Bienal Internacional de São Paulo, e nessa época, sua obra revela a influência pela pincelada vibrante de Vicent van Gogh (1853-1890), em 1955, passa a realizar quadros baseado no pontilhismo, nos quais os pontos ou traços de cor proporcionam destaque a matéria, como em Espantalhos diante da Paisagem (1956).

 Apresenta em suas telas espaços amplos, abertos e temas ligados a vida no campo, como o algodoal, os cafezal e o boi no pasto, que acabam tornando-se sua produção mais conhecida. Como nota o crítico P.M. Bardi, o artista revela grande espontaneidade na abstração dos detalhes em suas telas, onde, por exemplo, fileiras de pontos brancos indicam o algodoal. Destacam-se em sua obra o desenho expressivo, o senso da cor e o caráter de fantasia. Silva percorre uma grande variedade de temas: natureza-morta, pintura sacra, marinha, pintura histórica e de gênero. Algumas telas possuem um tom irônico. Nos quadros realizados a partir da década de 1970, o artista cria maior distinção entre a figura e o plano de fundo, empregando também grandes planos de cores.

Judith Lauand

Judith Lauand (1922 – )

Judith Lauand (Pontal / São Paulo, 26 de maio de 1922), pintora e gravadora. Estudou pintura com Mário Ybarra de Almeida e Domênico Lazzarini e gravura com Lívio Abramo. Graduada em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes de Araraquara, Judith mudou para São Paulo e passou a fazer parte – convidada por Waldemar Cordeiro – , do Grupo Ruptura (sendo do começo ao fim, a única mulher integrante). Com eles expôs na I Exposição Nacional de Arte Concreta e na mostra Konkrete Kunst em Zurique. No início, seus trabalhos eram pinturas figuritivas-expressionistas, depois passou a representar formas naturais pelo viés abstracionista-expressionista. No final dos anos 50 adotou um vocábulo construtivista com influências concretistas contendo grande rigor matemático.

Junto com Hermelindo Fiaminghi e Luiz Sacilotto fundou a Galeria NT – Novas Tendências, onde, na inauguração (1963) expôs seus próprios trabalhos. Na década de 60, Judith incorporou em suas obras, materiais pouco usuais como clips, alfinetes, tachinhas e dobradiças sobre suportes bidimensionais. Tais experimentos resultaram em trabalhos com efeitos e ritmos ópticos. Ganhou o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea; uma exposição retrospectiva lhe foi dedicada em 1996, destacando principalmente suas produções dos anos 50.

“Achava a abstração muito mais interessante, uma pesquisa que não tinha fim, muito mais diversificada”, diz Judith Lauand, fazendo uma rápida recapitulação de seus mais de 60 anos de carreira no campo da pintura. Ela nasceu em Pontal, no Estado de São Paulo, em maio de 1922, e foi em Araraquara, na Escola de Belas Artes, na década de 1940, que começou a se dedicar à pintura. Um caminho natural, segundo ela, esse de pintar. No começo, “no estilo da escola expressionista”, fazia naturezas-mortas e figuras. Mas, acidentalmente, um dia ficou surpresa quando viu que uma de suas naturezas-mortas tinha se transformado numa pintura abstrata feita de cubos e um círculo no lugar do que seria um prato… E pouco tempo depois, na década de 1950, já em São Paulo, Judith Lauand foi a única mulher a integrar o fechado Grupo Ruptura dentro do movimento concretista brasileiro.”

Luiz Paulo Baravelli

Luiz Paulo Baravelli (São Paulo SP 1942).

Pintor, desenhista, escultor, gravador, professor, cronista.

Cursa desenho e pintura na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, entre 1960 e 1962. Nessa época, estuda com Wesley Duke Lee (1931 – 2010), cuja obra torna-se uma referência importante em sua produção.

 Em 1964, inicia o curso de arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP). Leciona desenho na Escola Superior de Desenho Industrial de Ribeirão Preto e no Instituto de Artes e Decoração (Iade), em São Paulo. Participa da fundação da Escola Brasil:, juntamente com Carlos Fajardo (1941), José Resende (1945) e Frederico Nasser (1945). É co-editor da revista Malasartes, entre 1975 e 1976, e da revista Arte em São Paulo, no período de 1981 a 1983. Escreve também crônicas para o jornal Folha de S. Paulo, entre 1985 e 1986.

No início de sua carreira, realiza pinturas que se aproximam da arte pop. No fim dos anos 1960, cria objetos com base em materiais industrializados. A partir da década 1970, passa a dedicar-se exclusivamente à pintura. Realiza obras nas quais emprega freqüentemente suportes de formato irregular, sendo temas predominantes a paisagem urbana e a figura humana.

 Os trabalhos de Luiz Paulo Baravelli de meados da década de 1960 têm influência decisiva de seu professor Wesley Duke Lee (1931 – 2010). Segundo a historiadora Cláudia Valladão de Mattos, “nos quadros que Baravelli pintou na época, é recorrente a presença de soluções composicionais próximas às de Wesley, como o uso de cortes geométricos e […] a tendência à compilação e à exploração de inúmeros materiais e meios”.  Na mesma época, interessa-se pela arte pop feita na Inglaterra, sobretudo por Ron Kitaj (1932), Peter Blake (1932), David Hockney (1937) e Richard Hamilton (1922).

Manabu Mabe

Manabu Mabe (Kumamoto, Japão 1924 – São Paulo SP 1997).

Pintor, gravador, ilustrador.

De Kobe, Japão, emigra com a família para o Brasil em 1934, para dedicar-se ao trabalho na lavoura de café no interior do Estado de São Paulo. Interessado em pintura, começa a pesquisar, como autodidata, em revistas japonesas e livros sobre arte. Em 1945, na cidade de Lins, aprende a preparar a tela e a diluir tintas com o pintor e fotógrafo Teisuke Kumasaka. No fim da década de 1940, em São Paulo, conhece o pintor Tomoo Handa a quem apresenta seus trabalhos. Integra-se ao Grupo Seibi e participa das reuniões de estudos do Grupo 15. No ano seguinte adquire conhecimentos técnicos e teóricos com o pintor Yoshiya Takaoka.

 Nos anos 1950 toma parte nas exposições organizadas pelo Grupo Guanabara. Em 1957 vende seu cafezal em Lins e muda-se para São Paulo para dedicar-se exclusivamente à pintura. No ano seguinte, recebe o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Em 1959, é homenageado com o artigo intitulado The Year of Manabu Mabe [O ano de Manabu Mabe], publicado na revista Time, em Nova York. Conquista prêmio de melhor pintor nacional na 5ª Bienal Internacional de São Paulo e prêmio de pintura na 1ª Bienal de Paris. Nos anos 1980 pinta um painel para a Pan American Union em Washington, Estados Unidos; ilustra O Livro de Hai-Kais, tradução de Olga Salvary e edição de Massao Ohno e Roswitha Kempf; e elabora a cortina de fundo do Teatro Provincial, em Kumamoto, Japão.

 Comentário Crítico
Manabu Mabe vem com a família para o Brasil em 1934 e trabalha na lavoura de café no interior do Estado de São Paulo. Em 1941, reside na cidade de Lins, onde realiza desenhos a crayon e aquarelas. Dedica-se a essa atividade apenas nos dias de chuva – quando não pode trabalhar – e aos domingos. Adquire suas primeiras tintas a óleo em 1945. Dilui as tintas em querosene e utiliza como suporte para as pinturas o papelão ou a madeira. Nesse período, recebe orientação artística do pintor e fotógrafo Teisuke Kumasaka. Em 1947, em uma viagem a São Paulo conhece o pintor Tomoo Handa, que o incentiva a ter a natureza como fonte de inspiração.

No ano seguinte, estuda com o pintor Yoshiya Takaoka, que lhe transmite ensinamentos técnicos e teóricos sobre pintura. Nesse período, participa do Grupo Seibi e integra o Grupo 15, com Yoshiya Takaoka, Shigueto Tanaka e Tomoo Handa, entre outros. Dedica-se ao estudo do nu artístico, pinta paisagens e naturezas-mortas, primeiramente em estilo mais conservador e depois aproxima-se progressivamente do impressionismo e fauvismo.

 Na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, toma contato com obras de artistas da Escola de Paris, como Jean Claude Aujame, André Minaux, André Marchand e Bernard Lorjou, experiência que, segundo o próprio artista, modifica sua forma de pensar e a atitude perante a pintura. No começo da década de 1950, apresenta em suas telas formas geometrizadas, aproximando-se do cubismo, e figuras contornadas por grossos traços negros. Sua produção dialoga com a obra de Pablo Picasso e de Candido Portinari, pelos quais mantém forte admiração, como podemos observar em Carregadores ou Colheita de Café, ambas de 1956.

 Gradualmente, adere à abstração e, em 1955, pinta sua primeira obra abstrata Vibração-Momentânea. Muda-se com a família para São Paulo em 1957, a fim de iniciar a carreira de pintor profissional. Recebe, em 1959, o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, com as pinturas abstratas Grito  Vitorioso, ambas realizadas em 1958. As obras aludem ao sentimento de alegria do artista pelo convite para participação no evento. Vitorioso é ainda uma homenagem à atuação de Pelé na Copa do Mundo do ano anterior.

Em 1959, participa da 5ª Bienal Internacional de São Paulo, com as obras Composição Móvel, Pedaço de Luz e Espaço Branco, todas daquele ano, e recebe o prêmio de Melhor Pintor Nacional. As pinturas destacam-se pelas grandes manchas cromáticas, executadas em gestos rápidos e largos, em que se percebe o equilíbrio entre a espontaneidade e a contenção. Nessas telas, encontramos referências à tradicional arte da caligrafia japonesa. Consagra-se, no mesmo ano, nacional e internacionalmente: é premiado na 1ª Bienal dos Jovens de Paris; a revista Time dedica-lhe um artigo, intitulado The year of Manabu Mabe [O ano de Manabu Mabe]; e, no ano seguinte, é premiado na 30ª Bienal de Veneza. Torna-se assim um dos artistas mais destacados do abstracionismo informal brasileiro. Realiza exposições individuais e participa de mostras coletivas na América Latina, Europa e nos Estados Unidos.

 No início de sua trajetória no campo da abstração, Manabu Mabe explora em suas obras o empastamento, a textura e o traço e se revela um colorista de porte. Ao voltar-se para o universo das formas caligráficas, percebe também as possibilidades de criar uma linguagem lírica com a cor. Dessa forma, em meados da década de 1960, começa a aproximar-se também de certos aspectos do tachismo. Os títulos de suas obras evocam emoções ou fenômenos da natureza como, em Canção Melancólica, 1960, Primavera, 1965, Vento de Equador, 1969, Outono Tardio, 1973, Meus Sonhos, 1978 ou Viver, 1989. A partir da década de 1970, cristaliza seus procedimentos anteriores – que reaparecem estilizadamente  em quase toda sua produção -, incorpora em seus quadros figuras humanas e formas de animais, apenas insinuadas ou sugeridas, mas que em geral são representadas em grandes dimensões. Paralelamente, as grandes massas transparentes e etéreas com que vinha trabalhando adquirem um aspecto de solidez.

Maria Bonomi

Maria Anna Olga Luiza Bonomi (Meina, Itália 1935).

Cenógrafa e figurinista.

Realiza cenários e figurinos de destaque nos anos 1960, principalmente ao lado do diretor Antunes Filho, com quem realiza trabalhos em que cenografia e encenação interagem num amálgama artístico de primeira grandeza.

 Opta pela nacionalidade brasileira em 1953, formando-se em desenho na Universidade de Columbia, Nova York, em 1956, tornando-se artista plástica.

Seu primeiro trabalho como cenógrafa é em As Feiticeiras de Salém, de Arthur Miller, em 1960, para o Pequeno Teatro de Comédia. No ano seguinte, para essa mesma companhia, faz Sem Entrada e Sem Mais Nada, de Roberto Freire, ambos espetáculos de Antunes Filho, seu futuro marido.

 Em 1962, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), está em Yerma, de Federico García Lorca, outra encenação de Antunes, levando o Prêmio Associação Paulista de Críticos de Teatro (APCT), de melhor figurino. Logo a seguir, faz A Morte do Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, uma direção de Flávio Rangel para a casa. Para o Teatro da Esquina, empreendimento de Antunes e Ademar Guerra, Maria faz dois trabalhos de grande relevo: A Megera Domada, de William Shakespeare, em 1965, premiada com o Saci, Molière e APCT de melhor cenógrafa, e A Cozinha, de Arnold Wesker, 1968, em que ganha melhor cenografia pelo Prêmio Governador do Estado, ambos conduzidos por Antunes.

 Para o mesmo diretor, em 1967, cenografa Black-Out, de Frederick Knott, reproduzindo um autêntico apartamento nova-iorquino para ambientar a ação.

 Para o mesmo encenador cria, em 1970, os figurinos de Peer Gynt, de Henrik Ibsen, sendo novamente premiada. Em 1971, cria o apartamento do publicitário de Corpo a Corpo, de Oduvaldo Vianna Filho, sua última colaboração com Antunes Filho, de quem se separa em 1972. Com Ademar Guerra, no Paraná, faz dois trabalhos bem-sucedidos: A Colônia Cecília, de Renata Palottini, em 1984, e Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, 1989, duas superproduções envolvendo elencos numerosos.

 Sobre a importância da parceria artística entre Maria e Antunes, comenta o diretor Ademar Guerra: “Depois de Doce Pássaro, Antunes Filho volta da Europa e dirige no Pequeno Teatro de Comédia As Feiticeiras de Salém, de Arthur Miller, e Sem Entrada e Sem Mais Nada, de Roberto Freire. Nessa época, Maria Bonomi entra na vida do Antunes. Ela o faz mudar. Maria foi a ponte para Antunes dar seu grande salto qualitativo. A sua influência na carreira dele é muito grande. Eles se conheceram em As Feiticeiras de Salém – ela fazia cenário e figurino. Ali Maria começa a ampliar a visão de Antunes. Ela percebe o gênio e o estimula a se abrir para as coisas que ele poderia entender e fazer.

 Sem Maria, não sei o que seria do Antunes. Ela o ajuda a queimar etapas, de uma forma positiva. O que me impressionou na Maria Bonomi, desde que a conheci, é que está sempre muitos anos à frente. Ela intui as coisas antes que aconteçam. Devia abrir uma tenda, dessas que lêem o futuro, tamanha a sua capacidade de se antecipar aos fatos, às tendências… “.1

Mário Gruber

Mário Gruber (1927- 2011)

Mario Gruber nasceu em Santos em 1927 e começou a pintar em 1943, como autodidata. Tornou-se profissional aos 20 anos de idade, quando participou da Exposição Grupo dos 19 e o júri, formado por Lasar Segall, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, conferiu-lhe o primeiro prêmio em pintura.

Começou a pintar em 1943. Entrou para a Escola de Belas Artes de São Paulo em 1946, e no ano seguinte ganhou o primeiro prêmio de pintura na exposição do grupo 19 Pintores. Em 1948, fez sua primeira exposição individual.

Estudou gravura com Poty e trabalhou com Di Cavalcanti e Cândido Portinari.

Em 1949, graças a uma bolsa de estudos, mudou-se para Paris, onde estudou na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, sendo aluno do gravador Édouard Goerg. Voltou para o Brasil em 1951, quando fundou em Santos o Clube de Gravura, que mais tarde se chamaria Clube de Arte. Foi professor no Museu de Arte Moderna de São Paulo e na Fundação Armando Álvares Penteado. A partir de 1979, depois de uma breve passagem por Olinda, passou a dividir suas atividades entre as cidades de São Paulo, Paris e Nova York[3] [4] .

A partir dessa data os prêmios e as exposições nacionais e internacionais se acumulam e sua obra motiva a realização de dois curta-metragens, um deles exibido no Festival de Cinema de Veneza, em 1967, direção de Rubens Biáfora, ganhador do Prêmio Governador do Estado; o segundo – “A Arte Fantástica de Mario Gruber”, dirigido por Nelson Pereira dos Santos -, 1982.

Gruber tem telas em vários museus brasileiros e internacionais, como o Wisconsin State Museum College Union, USA; Museu Poushkin, Moscou, URSS; Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, SP; Museu de Arte Brasileira, São Paulo, SP; Museu de Bahia, Salvador, BA e outros.

Sua participação em obras de arquitetura, a convite de seus autores, vem de longa data. Além de colabora com Oscar Niemeyer, para o arquiteto Vilanova Artigas, por exemplo, fez os painéis da “Casa dos Triângulos” na Galeria Califórnia. Marcou também sua posição de vanguarda no realismo fantástico brasileiro ao criar os grandes painéis do Aeroporto internacional de Cumbica e da Estação Sé do Metrô de São Paulo.

Depois de um início de carreira marcado pelo Expressionismo, Gruber dedicou-se a obras de realismo social na década de 50, ao lado de seus companheiros do Clube de Gravura. Nos anos 70, experimentou recursos fotográficos, ao mesmo tempo em que assimilava influências da televisão e do cinema.

Mais tarde, suas composições passaram a apresentar personagens como anjos e robôs, vinculando-se ao realismo fantástico latino-americano.

Colaborou com o arquiteto Vilanova Artigas criando os painéis da Casa dos Triângulos, da Galeria Califórnia e do Ginásio Estadual de Guarulhos. Também criou os painéis do Aeroporto Internacional de Cumbica e da Estação Sé do Metrô de São Paulo.

Telas de Mário Gruber compõem o acervo de museus como o Wisconsin State Museum College Union, o Museu Pushkin (Moscou), o MASP, o Museu de Arte Brasileira (São Paulo) e o Museu da Bahia (Salvador).

Nazareth Pacheco

Nazareth Pacheco e Silva (São Paulo SP 1961).

Artista visual. Cursa artes plásticas na Universidade Presbiteriana Mackenzie, entre 1981 e 1983. Realiza sua primeira mostra individual, no Espaço Cultural Julio Bogoricin, em São Paulo, em 1985. Inicia suas experiências com ready-mades após participar, em 1986, de workshop ministrado por Guto Lacaz (1948). Viaja para Paris em 1987, e freqüenta o ateliê de escultura da École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes]. Em 1989, obtém o prêmio aquisição no 11° Salão Nacional de Artes Plásticas, no Rio de Janeiro, e participa da 20ª Bienal Internacional de São Paulo. Entre 1990 e 1991, participa de workshops com Iole de Freitas (1945), Carmela Gross (1946), José Resende (1945), Amilcar de Castro (1920-2002), Nuno Ramos (1960) e Waltercio Caldas (1946). Defende na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) a dissertação Objetos Sedutores, com orientação de Carlos Fajardo (1941) em 2002. É lançado o documentário sobre sua obra Gilete Azul, realizado pela psicanalista Miriam Schnaiderman, em 2003.

 Comentário Crítico
Nazareth Pacheco, desde o início de sua trajetória, volta-se ao campo tridimensional. Suas primeiras peças são realizadas em borracha, e apresentam pinos pontiagudos do mesmo material. Para o historiador da arte Tadeu Chiarelli, elas já revelam uma carga de agressividade, por sua semelhança com objetos de tortura.

Em 1992 e 1993, a artista realiza os Objetos Aprisionados, compostos por uma série de caixas que contêm objetos e documentos de caráter autobiográfico, alguns relativos a tratamentos médicos e estéticos a que ela esteve submetida, reunindo fotos, radiografias, relatórios, frascos e chumbo. Segundo a estudiosa Elizabeth Leone, nos anos seguintes sua reflexão extrapola a questão pessoal e passa a considerar o corpo feminino como lugar de práticas médicas que visam adaptá-lo a “aprimoramentos estéticos”.

No final da década de 1990, a artista começa a agregar metais, como filetes de aço, cobre e latão, aos trabalhos em borracha. Passa a confeccionar peças com objetos que não podem ser tocados, unindo miçangas ou cristais de vidro a agulhas, lâminas de bisturis ou de barbear e anzóis, criando com eles adornos e vestimentas. Inicia também as pesquisas com um novo material, o acrílico cristal, projetando objetos como bancos ou berços, aos quais agrega instrumentos cortantes

Patrícia Lopes

Patrícia Rolim Lopes Canesin

Bacharel em Comunicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) nos anos de 1987 à 1990. De 1991 à 1993, formou-se em Desenho Gráfico e Publicitário no Instituto de Artes de Fort Lauderdale na Flórida, Estados Unidos.

Artista em busca de expressão desde criança, foi somente a partir de 2009 que Patricia Lopes constituiu seu ateliê de artes, em sua residência, onde retomou produções artísticas do abstracionismo contemporâneo.

“Na minha vida, pintar significa liberdade, prazer, revelação e harmonia. Expresso a minha arte com a intenção de fazer o expectador, viajar com os olhos pelo meu trabalho”.

Pedro Alexandrino

Pedro Alexandrino Borges (São Paulo SP 1856 – idem 1942).

Pintor, decorador, desenhista e professor. Inicia-se na pintura aos 11 anos, ao trabalhar com o decorador francês Barandier (ca.1812 – 1867), na catedral de Campinas, São Paulo. Nessa época, também auxilia o decorador francês Stevaux em São Paulo e realiza trabalhos em igrejas, residências e palacetes.

 Em 1880, recebe as primeiras lições de pintura do pintor mato-grossense João Boaventura da Cruz. A partir de 1883, estuda com Almeida Júnior (1850 – 1899) em seu ateliê, na Rua da Glória, em São Paulo.

 De 1887 a 1888, estuda desenho com José Maria de Medeiros (1849 – 1925) e pintura com Zeferino da Costa (1840 – 1915), como aluno bolsista da Academia Imperial de Belas Artes – Aiba, no Rio de Janeiro. Entre 1890 e 1892, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes – Enba, mas não conclui o curso. De volta a São Paulo, leciona desenho no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo – Laosp, em 1895 e 1896. Viaja para Paris em companhia de Almeida Júnior, como pensionista do Estado de São Paulo, e freqüenta o ateliê de René-Loui Chrétien (1867 – 1942) e a Académie Fernand Carmon. Conhece Antoine Vollon (1833 – 1900), e com ele estuda a partir de 1899.

 Freqüenta também o Ateliê Lauri e estuda com o pintor Monroy. Retorna ao Brasil na primeira década do século XX, estabelece-se em São Paulo, onde leciona desenho e pintura. Tem como alunos Tarsila do Amaral (1886 – 1973), Anita Malfatti (1889 – 1964) e Bonadei (1906 – 1974), entre outros.

 Comentário crítico
Antes mesmo de sua viagem de estudos a Paris, Pedro Alexandrino já é um artista especializado em natureza-morta. Segundo a historiadora da arte Ruth Tarasantchi, sua produção desse período é influenciada por seu mestre, Almeida Júnior (1850 – 1899), principalmente na fatura lisa e na utilização de planos de fundo escuros. Em Cozinha na Roça, 1894, apresenta uma composição com pinceladas mais livres, na qual é possível observar a habilidade do pintor no uso das cores.

 Na França, tem contato com a obra de Antoine Vollon (1833 – 1900) e de René-Louis Chrétien (1867 – 1942). Em Paris, como aponta Tarasantchi, suas composições tornam-se mais complexas, realizadas com pinceladas mais largas, com menor preocupação com detalhes.

 O gosto do artista por formas arrendondadas ou cilíndricas revela-se em Flores e Doces, s.d. ou em Metais, Porcelanas e Morangos, s.d.

Alexandrino é conhecido pela representação de objetos em metal, dos quais consegue transmitir a impressão de volume e brilho.

 Reúne, por vezes, em uma mesma pintura, dois ou três tipos diferentes de metais, demonstrando sua habilidade em reproduzir os diferentes tons de cada peça. Outra constante em seu trabalho é a exploração dos efeitos de transparência, quando pinta cristais ou garrafas de vidro.

Roberto Burle Marx

Roberto Burle Marx (São Paulo SP 1909 – Rio de Janeiro RJ 1994).

Paisagista, arquiteto, desenhista, pintor, gravador, litógrafo, escultor, tapeceiro, ceramista, designer de jóias, decorador.

Durante a infância vive no Rio de Janeiro. Vai com a família para a Alemanha, em 1928. Em Berlim, estuda canto e se integra à vida cultural da cidade, freqüenta teatros, óperas, museus e galerias de arte. Entra em contato com as obras de Vincent van Gogh (1853-1890), Pablo Picasso (1881-1973) e Paul Klee (1879-1940). Em 1929, freqüenta o ateliê de pintura de Degner Klemn.

 Nos jardins e museus botânicos de Dahlen, em Berlim, entusiasma-se ao encontrar exemplares da flora brasileira. De volta ao Brasil, faz curso de pintura e arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), Rio de Janeiro, entre 1930 e 1934, onde é aluno de Leo Putz (1869-1940), Augusto Bracet (1881-1960) e Celso Antônio (1896-1984). Em 1932, realiza seu primeiro projeto de jardim para a residência da família Schwartz, no Rio de Janeiro, a convite do arquiteto Lucio Costa (1902-1998), que realiza o projeto de arquitetura com Gregori Warchavchik (1896-1972).

 Entre 1934 e 1937, ocupa o cargo de diretor de parques e jardins do Recife, Pernambuco, onde passa a residir. Nesse período, vai com freqüência ao Rio de Janeiro e tem aulas com Candido Portinari (1903-1962) e com o escritor Mário de Andrade (1893-1945), no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal. Em 1937, retorna ao Rio de Janeiro e trabalha como assistente de Candido Portinari.

 O final da década de 1930 arca a integração de sua obra paisagística à arquitetura moderna, época em que o artista experimenta formas orgânicas e sinuosas na elaboração de seus projetos. Sua paixão por plantas remonta à juventude, quando se interessa por botânica e jardinagem, mas é em 1949 que Roberto Burle Marx organiza uma grande coleção, quando adquire um sítio de 800.000 m², em Campo Grande, Rio de Janeiro. Em companhia de botânicos, realiza inúmeras viagens por diversas regiões do país, para coletar e catalogar exemplares de plantas, reproduzindo em sua obra a diversidade fitogeográfica brasileira.

 Comentário Crítico
O estudo da paisagem natural brasileira é um elemento fundamental nos projetos de Burle Marx, desde o início da carreira. Sua obra tem caráter inovador: trabalha como botânico e pesquisador – realiza excursões pelo país, descobre espécies vegetais, incorpora as plantas do cerrado, espécies amazônicas e do sertão nordestino em suas obras. Inclui em seus parques e jardins elementos arquitetônicos como colunas e arcadas, encontrados em demolições; utiliza ainda mosaicos e painéis de azulejos, recuperando a tradição portuguesa.

Destaca-se em seus projetos a preocupação com as massas de cor, obtidas pela disposição de arbustos e árvores em grupos homogêneos, de acordo com seu potencial de mudanças cromáticas, ao longo das estações do ano. Essa mesma atenção em relação à cor, é conferida aos materiais minerais empregados: pedras, seixos e areias.  Cria jardins de formas orgânicas, delineados por um contorno preciso, como pode ser visto, por exemplo, no Conjunto da Pampulha (Belo Horizonte, 1942-1945).

 Na Fazenda Marambaia (Petrópolis, 1948) e no Rancho da Pedra Azul (Teresópolis, 1956) integra a paisagem construída ao cenário natural: os jardins se expandem e incorporam a natureza local. Em 1949, Burle Marx adquire o Sítio Santo Antônio da Bica, nas proximidades do Rio de Janeiro, onde reúne e estuda exemplares, muitas vezes raros, da flora brasileira. A partir da década de 1950, utiliza em seus trabalhos uma ordenação mais geometrizante, como ocorre na Praça da Independência (João Pessoa, 1952).

 Burle Marx colabora com arquitetos modernos em projetos em que a arquitetura e o paisagismo são integrados. Trabalha com Lucio Costa no projeto dos jardins do Ministério da Educação e Saúde (MES) (Rio de Janeiro, 1938-1944) e do eixo monumental de Brasília (1961-1962); com Rino Levi (1901-1965) na residência Olivo Gomes (atual Parque da Cidade Roberto Burle Marx, São José dos Campos, 1950-1953 e 1965); com Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) nos jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) (1954-1956) e do Parque do Flamengo (1961-1965); e com Oscar Niemeyer (1907-2012) no conjunto da Pampulha.

 Paralelamente, trabalha como pintor, dedicando-se, na década de 1930, a naturezas-mortas com motivos da flora brasileira, em traços sinuosos e uma paleta de tons sóbrios. Produz quadros em que incorpora soluções formais do cubismo, como na obra Abóboras com Bananas (1933). Na pintura mantém diálogo com Picasso e com os muralistas mexicanos, representando figuras do povo, cenas de trabalho e favelas. Em seus retratos aproxima-se da obra de Candido Portinari, com quem estuda em 1935, e Di Cavalcanti (1897-1976), na representação realista dos personagens.

 Emprega o geometrismo ao pintar cidades, construídas em linhas retas, com uma paleta sóbria, em que predominam tons amarelo, cinza e preto, como em Morro do Querosene (1936) e Morro de São Diogo (1941). Paralelamente, um novo tratamento formal é percebido em alguns quadros: a passagem gradual para o abstracionismo, como em Cataventos (1940), Figura em Cadeira de Balanço (1941) e Peixes (1944).

 A obra de Burle Marx atinge uma linguagem particular a partir da década de 1950. A tendência para a abstração consolida-se e a paleta muda, passando a incluir muitas nuances de azul, verde e amarelo mais vivos. Em suas telas o trabalho com a cor está associado ao desenho, que se sobrepõe e estrutura a composição. Nos anos 1980, passa a realizar composições geométricas em acrílico, os contornos são desenhados com a cor, as telas adquirem um aspecto fluído, flexível e ganham leveza.

Ao longo de sua carreira são numerosos os desenhos a nanquim, nos quais, muitas vezes, trabalha com motivos tirados da trama finíssima de folhagens e galhos. Embora tenha como base a natureza, seus desenhos são, essencialmente, de caráter abstrato, com a predominância de elementos lineares. Utiliza o nanquim para obter gradações em tonalidades diversas, como pode ser visto no desenho Dia e Noite (Série 1973, 1).

 Inspirando-se constantemente em formas da natureza, suas pinturas e desenhos refletem a indissociável experiência de paisagista e botânico. Na década de 1970, tem marcante atuação como ecologista, defendendo a necessidade da formação de uma consciência crítica em relação à destruição do meio ambiente. O Sítio Santo Antônio da Bica é doado ao governo federal em 1985, passando a chamar-se Sítio Roberto Burle Marx, e constitui um valioso patrimônio paisagístico, arquitetônico e botânico.

Rubens Gerchman

Rubens Gerchman (Rio de Janeiro RJ 1942 – São Paulo SP 2008).

Pintor, desenhista, gravador, escultor.

Em 1957, freqüenta o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde estuda desenho. Faz curso de xilogravura com Adir Botelho (1932) e freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes (Enba), entre 1960 e 1961. Em 1967, é contemplado com o prêmio de viagem ao exterior no 16º Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM) e viaja para os Estados Unidos. Reside em Nova York entre 1968 e 1972.

Retorna ao Brasil e faz o roteiro, a cenografia e direção do filme Triunfo Hermético e os curtas ValCarnal e Behind the Broken Glass. De 1975 a 1979, assume a direção da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage), Rio de Janeiro. É co-fundador e diretor da revista Malasartes. Em 1978, viaja para os Estados Unidos com bolsa da Fundação John Simon Guggenheim. Em 1981, a convite da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), realiza painel de azulejos para o Sesc Fábrica Pompéia, em São Paulo. Em 1982, permanece por um ano em Berlim como artista residente, a convite do Deutscher Akademischer Austauch Dienst (DAAD) [Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico]. Lança, em 1989, o livro Gerchman, com textos do crítico de arte Wilson Coutinho. Publica o álbum de litografias Dupla Identidade, com texto do poeta Armando Freitas Filho (1940), em 1993. Como docente ministra cursos no Brasil e no exterior. Em 2000, lança álbum com 32 litografias, primeiro volume da coleção Cahier d’Artiste, da Lithos Edições de Arte.

Comentário Crítico
Em suas primeiras telas, Rubens Gerchman pinta cenas urbanas bucólicas. Contaminado pelo universo da cultura de massa, faz quadros retratando as multidões e o mundo impresso nas páginas dos meios de comunicação. Em 1962, sai da Escola Nacional de Belas Artes (Enba). Dois anos depois, realiza sua primeira exposição individual, na Galeria Vila Rica, no Rio de Janeiro.

Mostra guaches e painéis, predominantemente em preto-e-branco. Nos trabalhos, as multidões aparecem de forma pouco detalhada, reafirmando o anonimato dos indivíduos, tendo Jean Dubuffet (1901-1985) como referência. Sua temática sai da vida popular da metrópole: pinta concursos de miss, jogo de futebol e narrativas de telenovelas e histórias em quadrinhos.

Na coletiva Opinião 66, mostra obras críticas da situação brasileira, como Caixas de Morar, Elevador Social e Ditadura das Coisas. Na época, faz seus primeiros trabalhos tridimensionais, vinculados às discussões da Nova Objetividade Brasileira. Esse debate se materializou em uma exposição em 1967, unindo artistas como Hélio Oiticica (1937-1980) e Carlos Vergara (1941). No mesmo ano, é premiado pelo Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM). Com o prêmio, muda-se para Nova York. Lá se dedica a poemas visuais tridimensionais e faz peças como Tool , 1970, Air e SOS , 1967. Nos Estados Unidos, ajuda a organizar o boicote à Bienal Internacional de São Paulo, nomeada de “Bienal da Ditadura”. A partir de 1972, suas esculturas ganham a forma de múltiplos. O artista obtém grande sucesso comercial com eles.

Em 1973, retorna definitivamente ao Brasil e faz sua primeira retrospectiva, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Um ano depois, participa da fundação da revista Malasartes. Na época, faz gravuras em colaboração com Claudio Tozzi (1944) e Hélio Oiticica. Sua obra usa a palavra escrita, e mostra grande afinidade com a arte conceitual. A partir de 1975, assume a direção da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage). No período, dedica-se a telas feitas com base nas narrativas dos quadrinhos e na produção popular de imagens, como em Virgem dos Lábios de Mel (1975).

Nos anos 1980, o artista retoma a pintura realista. Faz quadros e relevos. Ocupa-se, sobretudo, de temas como a criminalidade, as multidões e de aspectos pitorescos da vida na cidade, como Banco de Trás, 1985 e Beijo, 1989. Essas pinturas são mais coloridas e gestuais. Aproxima-se das correntes neo-expressionismo da época. Na década de 1990, as figuras de suas telas são trabalhadas em esculturas e litografias.

Siron Franco

Gessiron Alves Franco (Goiás Velho GO 1947).

Pintor, escultor, ilustrador, desenhista, gravador e diretor de arte. Muda-se para Goiânia em 1950, onde estuda pintura com D. J. Oliveira (1932-2005) e Cleber Gouvêa (1942-2000), em 1960, ano em que também é aluno-ouvinte da Escola de Belas Artes da Universidade Católica de Goiânia. Entre 1969 e 1971, freqüenta os ateliês de Bernardo Cid (1925-1982) e Walter Levy (1905-1995), em São Paulo, integrando o grupo que faz a exposição Surrealismo e Arte Fantástica, na Galeria Seta.

 Em 1975, com o prêmio viagem ao exterior, reside entre capitais européias e o Brasil. Em 1979, inicia o Projeto Ver-A-Cidade, realizando diversas interferências no espaço urbano de Goiânia. Entre 1985 e 1987, faz direção de arte para documentários de televisão como Xingu, concebido por Washington Novaes, premiado com medalha de ouro no Festival Internacional de Televisão de Seul. Desde 1986, realiza monumentos públicos, baseados na realidade social do país. Entre 1992 e 1997, ilustra vários livros, como O Desafio do Branco, de Antonio Carlos Osório, O Forasteiro, de Walmir Ayala, e Contos que Valem uma Fábula: História de Animais Animados, de Katia Canton, entre outros.

 Comentário Crítico
A pintura de Siron Franco tem sido associada por alguns críticos à produção do artista inglês Francis Bacon (1909-1992), por ser povoada por seres monstruosos ou por revelar uma dimensão aterrorizadora. Nas séries Fábulas de Horror (1975) ou Semelhantes (1980), pinta figuras de ar sinistro, que não têm traços distintivos ou que apresentam deformações. Emprega freqüentemente o plano de fundo negro em seus quadros, utilizando uma gama cromática escura, na qual predominam marrom e vermelho.

 Como nota a crítica inglesa Dawn Ades, na série Peles (1984) o artista cria superfícies de grande sensualidade, que envolvem também uma ambigüidade: escondem a violência e a crueldade necessárias para sua produção. Já nos quadros da série Césio (1987), concebidos com uma gama muita restrita de pigmentos, o pintor comenta a tragédia ocorrida em Goiânia, ocasionada pelo vazamento de material radioativo.

 Em obras do fim da década de 1990, o artista passa de uma figuração mais evidente para a utilização de grandes planos cromáticos, em obras quase abstratas, nas quais emprega diversas técnicas: colagens, desenhos e grafismos.

 Como aponta Dawn Ades, sua produção destaca-se pela inovação formal, pelo compromisso com o satírico, que convive de maneira inusitada com a pintura “séria”, e pela referência a importantes questões políticas e sociais, como a ecologia e a defesa dos povos indígenas. Para Siron Franco “a arte tem a finalidade de tentar dias melhores para o homem”. Ele afirma: “eu tento, ao meu modo, testemunhar a minha época, o que faço é uma crônica subjetiva da época em que vivo”.

Sonia Ebling

Sonia Ebling (Taquara RS 1918 – Rio de Janeiro RJ 2006)

 Escultora, pintora e professora.

 Sonia Ebling de Kermoal inicia sua formação fazendo cursos de pintura e escultura na Escola de Belas Artes do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, entre 1944 e 1951. Em 1955, recebe o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro. De 1956 a 1959, viaja por vários países da Europa, estudando com Zadkine, em Paris, França. Reside nessa cidade, entre 1959 e 1968, e recebe uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian. De volta ao Brasil, executa relevo para o Palácio dos Arcos, do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, Distrito Federal. Em 1970, ministra um curso de extensão técnica, diretamente em cimento, na Escola de Belas Artes da UFRGS. Seis anos depois, é convidada para lecionar escultura nessa mesma universidade.

Críticas

 “Com a série Os Casais, principalmente Casal no Colo (1978 – bronze, 0,18 m), Love (1977 – bronze, 0,46 m) e Nupcial (1979 – bronze, 0,45 m), atinge ela um de seus pontos culminantes. Emerge uma escultura de livre inspiração, de inquietude formal disciplinada, de fantasia acorrentada a um instinto seguro, que não só lhe proíbe o desgarramento no anedótico e no folclórico, mas a impele, sempre mais, para a depuração. Outra vez, o instinto conjura-lhe a adesão a todo essencialismo in vitro. Sua escultura, em definitivo, torna-se impura por uma espécie de obsessão, que a mantém nas malhas dos sentidos comovidos pelo choque direto do mundo e dos homens”.

Armindo Trevisan

Trevisan, Armindo. Sonia Ebling: a escultura dialética. In: —. Escultores contemporâneos do Rio Grande do Sul. p.54.

Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral (1886 – 1973)

Nascida em 1º de setembro de 1886, na Fazenda São Bernardo, em Capivari, interior de São Paulo1 , era filha de José Estanislau do Amaral Filho e de Lídia Dias de Aguiar, e neta de José Estanislau do Amaral, cognominado “o milionário” em virtude da imensa fortuna acumulada em fazendas do interior paulista.

Começou a aprender pintura em 1917, com Pedro Alexandrino Borges.1 Mais tarde, estudou com o alemão George Fischer Elpons. Em 1920, viaja a Paris e frequenta a Academia Julian, onde desenhava nus e modelos vivos intensamente. Também estudou na Academia de Émile Renard.

Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco.

Em janeiro de 1923, na Europa , Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e o casal viajou por Portugal e Espanha. De volta a Paris, estudou com os artistas cubistas: frequentou a Academia de Lhote, conheceu Pablo Picasso e tornou-se amiga do pintor Fernand Léger, visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência do modelado legeriano.

Fases Pau-Brasil e Antropofagia

Em 1924, em meio à uma viagem de “redescoberta do Brasil” com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, Tarsila iniciou sua fase artística “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os “bichos nacionais”(mencionados em poema por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana.

Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e, no mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Em 1928, Tarsila pinta o Abaporu, cujo nome de origem indígena significa “homem que come carne humana”, obra que originou o Movimento Antropofágico, idealizado pelo seu marido.

A Antropofagia propunha a digestão de influências estrangeiras, como no ritual canibal (em que se devora o inimigo com a crença de poder-se absorver suas qualidades), para que a arte nacional ganhasse uma feição mais brasileira.

Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York, conhecida como a Crise de 19291 , Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da crise do café e Tarsila perde sua fazenda. Ainda nesse mesmo ano, Oswald de Andrade separa-se de Tarsila porque ele se apaixonou e decidiu se casar com a revolucionária Patrícia Galvão, conhecida como Pagu. Tarsila sofre demais com a separação e com a perda da fazenda, o que a leva a entregar-se ainda mais a seu trabalho no mundo artístico.

Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Porém, com o advento da ditadura de Getúlio Vargas e com a queda de Júlio Prestes, perdeu o cargo.

Viagem à URSS e fase social

Em 1931, Tarsila vendeu alguns quadros de sua coleção particular para poder viajar à União Soviética com seu novo marido, o psiquiatra paraibano Osório César, que a ajudaria a se adaptar às diferentes formas de pensamento político e social. O casal viajou a Moscou, Leningrado, Odessa, Constantinopla, Belgrado e Berlim. Logo estaria novamente em Paris, onde Tarsila sensibilizou-se com os problemas da classe operária. Sem dinheiro, trabalhou como operária de construção, pintora de paredes e portas. Logo conseguiu o dinheiro necessário para voltar ao Brasil. Com a crise de 1929, ela perdera praticamente todos os seus bens e sua fortuna.1

No Brasil, por participar de reuniões políticas de esquerda e pela sua chegada após viagem à URSS, Tarsila é considerada suspeita e é presa, acusada de subversão. Em 1933, a partir do quadro “Operários”, a artista inicia uma fase de temática mais social, da qual são exemplos as telas Operários e Segunda Classe. Em meados dos anos 30, o escritor Luiz Martins, vinte anos mais jovem que Tarsila, torna-se seu companheiro constante, primeiro de pinturas depois da vida sentimental. Ela se separa de Osório e se casa com Luiz, com quem viveu até os anos 50.

A partir da década de 40, Tarsila passa a pintar retomando estilos de fases anteriores. Expõe nas 1ª e 2ª Bienais de São Paulo e ganha uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) em 1960. É tema de sala especial na Bienal de São Paulo de 1963 e, no ano seguinte, apresenta-se na 32ª Bienal de Veneza.

Últimas décadas: 1960 e 1970

Em 1965, separada de Luís e vivendo sozinha, foi submetida a uma cirurgia de coluna, já que sentia muitas dores, e um erro médico a deixou paralítica, permanecendo em cadeira de rodas até seus últimos dias.

Em 1966, Tarsila perdeu sua única filha, Dulce, que faleceu de um ataque de diabetes, para seu desespero. Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em entrevista, sua aproximação ao espiritismo.

A partir daí, passa a vender seus quadros, doando parte do dinheiro obtido a uma instituição administrada por Chico Xavier, de quem se torna amiga. Ele a visitava, quando de passagem por São Paulo e ambos mantiveram correspondência

Tarsila do Amaral, a artista-símbolo do modernismo brasileiro, faleceu no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 17 de janeiro de 1973 devido a depressão [carece de fontes]. Foi enterrada no Cemitério da Consolação de vestido branco, conforme seu desejo.

Tomie Ohtake

Tomie Ohtake (1913 – 2015)

É uma artista plástica japonesa naturalizada brasileira. Aos vinte e três anos de idade viajou ao Brasil, para visitar um irmão mas não pode retornar devido a Segunda Guerra Mundial. É uma das principais representantes do abstracionismo informal. Sua obra abrange pinturas, gravuras e esculturas. Foi premiada no Salão Nacional de Arte Moderna, em 1960; e em 1988, foi condecorada com a Ordem do Rio Branco pela escultura pública comemorativa dos 80 anos da imigração japonesa, em São Paulo.

Pela sua carreira consagrada Tomie Ohtake é considerada a “dama das artes plásticas brasileira”. 3 Segundo o crítico de arte Ichiro Hariu, os artistas como Tomie Ohtake, Tikashi Fukushima, Manabu Mabe e outros são reconhecidos abstracionistas, representativos do Brasil, que contam com muitos apoiadores.4 Além de pertencerem ao grupo da geração de imigrantes do pré-guerra. Grupo esse constituído por imigrantes comuns que, após várias mudanças em suas vidas, despertaram para as artes plásticas e iniciaram seus trabalhos. Tomie Ohtake é a mãe do arquiteto Ruy Ohtake.

Em 1952, iniciou na pintura com o artista Keisuke Sugano. No ano seguinte, integra o Grupo Seibi. Passou um certo tempo produzindo obras no contexto da arte figurativa, a artista define-se pelo abstracionismo. A partir dos anos 1970, passa a trabalhar com serigrafia, litogravura e gravura em metal. Nos anos 50 e 60, participou de Salões nacionais e regionais, tendo sido premiada na maioria deles. Foi convidada a participar da Bienal de Veneza em 1972, pela própria instituição. Recebeu o Prêmio Panorama da Pintura Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Empregou ao longo da década de 1960 o uso tons contrastantes. Revelou afinidade com a obra do pintor Mark Rothko, “na pulsação obtida em suas telas pelo uso da cor e nos refinados jogos de equilíbrio”.3 Cecília França Lourenço, ao comentar a obra de Tomie Ohtake, quando ela atingiu um nível de maturidade, compara com a obra da artista com a de Fukushima e Mabe, no contexto que ambos os três tinham “certa contenção, sem permitir extravasar totalmente a emoção da obra”.

A arte na década de 80 foi influenciada pelo aparecimento de outros artistas e também pela atuação dos pioneiros, como Tomoo Handa, abstracionistas, como Manabu Mabe, Tikashi Fukushima, Tomie Ohtake, Kazuo Wakabayashi e outros, onde atuaram, no desenvolvimento artístico, como também nos interesses da comunidade de artistas.1

Tomie se destaca também com o trabalho com esculturas em grandes dimensões em espaços públicos, sendo que na 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1995, teve uma sala especial de esculturas. Atualmente, 27 de suas obras são obras públicas, as quais estão em algumas cidades brasileiras. Sendo que em São Paulo, parte delas se tornaram marcos paulistanos, como os quatro grandes painéis da Estação Consolação do Metrô de São Paulo, a escultura em concreto armado na Avenida 23 de Maio e a pintura em parede cega no centro, na Ladeira da Memória.

Em 1995 escreveu juntamente com Alberto Goldin escreveu o livro intitulado “Gota d’agua” que foi escolhido pela Jugend Bibliothek de Munique, na Alemanha, como um dos melhores livros editados no Brasil no ano de 1995. 3 No mesmo ano recebeu o Prêmio Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura – Minc. Em 2000, é criado o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Yolanda Mohalyi

Yolanda Mohalyi (1909 – 1978)

Yolanda Lederer Mohalyi (Kolozsvar, capital da Transilvânia, Hungria [atual Cluj Napoca, Romênia] 1909 – São Paulo SP 1978). Pintora, desenhista. Na Hungria estuda pintura na Escola Livre de Nagygania e, em 1927, ingressa na Real Academia de Belas Artes de Budapeste. Em 1931, vem para o Brasil e fixa-se em São Paulo, onde leciona desenho e pintura. Foram seus alunos, entre outros, Maria Bonomi (1935) e Giselda Leirner (1928). A partir de 1935, começa a freqüentar o ateliê de Lasar Segall (1891 – 1957), com quem identifica-se. Por volta de 1937, integra o Grupo 7, ao lado de Victor Brecheret (1894 – 1955), Antonio Gomide (1895 – 1967) e Elisabeth Nobiling (1902 – 1975), entre outros. Sua primeira exposição individual ocorre em 1945 no Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB/SP. Em 1951 realiza suas primeiras xilogravuras, com Hansen Bahia (1915 – 1978). Em 1958, recebe o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea. Entre as décadas de 1950 e 1960, executa em São Paulo vitrais para a Fundação Armando Álvares Penteado – Faap e murais para as igrejas Cristo Operário e São Domingos, além de mosaicos para residências particulares. Mais tarde, executa também vitrais para a Capela de São Francisco, em Itatiaia. Entre 1960 e 1962, leciona no curso de desenho e plástica da Faap.

É também nesse ano que a artista representa o Brasil na 1ª Bienal Americana de Arte, na Argentina, tendo alguns de seus trabalhos escolhidos pelo crítico Sir Herbert Read para uma exposição itinerante nos Estados Unidos. Em 1963, recebe o prêmio de melhor pintor nacional na 7ª Bienal Internacional de São Paulo.

Comentário Crítico

Nascida em Cluj Napoca, na atual Romênia, Yolanda Mohalyi estuda desenho e pintura na Academia de Belas Artes de Budapeste. Forma-se em um ambiente artístico ligado predominantemente ao expressionismo alemão, porém de vertente mais poética. O quadro Moça ao Ar Livre (1930) é um exemplo dessa tendência expressionista e destaca-se pelas tintas carregadas e pelo caráter melancólico e dramático. A artista vem para o Brasil em 1931, fixando-se em São Paulo. Suas obras iniciais têm como tema principal a figura humana e revelam preocupação com as injustiças sociais, como no quadro Desemprego (1931), realizado em tonalidades sombrias.

No Brasil, a pintora integra o Grupo 7, com Victor Brecheret (1894 – 1955), Elisabeth Nobiling (1902 – 1975), Antonio Gomide (1895 – 1967), Rino Levi (1901 – 1965), John Graz (1891 – 1980) e Regina Graz (1897 – 1973). Yolanda revela grande admiração pela obra do pintor Lasar Segall (1891-1957), de quem se torna amiga. A afinidade com a poética de Segall é mostrada nos aspectos formais e também na escolha dos temas: ênfase na figura humana, paisagens urbanas ou campos com animais e principalmente na preocupação em retratar personagens humildes ou desfavorecidos, como ocorre, por exemplo, no quadro Século XX (ca.1938). A paleta é próxima daquela utilizada por Segall, com um cromatismo denso e muito elaborado, no qual predominam os tons ocre. Yolanda Mohalyi emprega, porém, nuances mais luminosas e transparentes, em relação à de Segall. Utiliza com freqüência o amarelo, embora em tonalidades rebaixadas. Procura obter, na pintura a óleo, os efeitos de transparência característicos da aquarela, técnica que emprega freqüentemente e na qual revela grande domínio. Usa a aquarela em vários auto-retratos, naturezas-mortas e também em algumas paisagens brasileiras, representadas em um clima poético como ocorre em Ubatuba, Campos de Jordão ou Arredores de Jacareí (todas sem data). Na aquarela Menino com Abacaxi (1940) utiliza a simplificação formal do cubismo, em fatura muito pessoal, com uma gama cromática luminosa.

A partir da segunda metade da década de 1950, sua obra revela a gradativa passagem para a abstração, por meio da simplificação e geometrização das formas do plano de fundo de quadros como Solidão (1955). Suas telas abstratas da década de 1950 apresentam manchas de cores que se aproximam de formas retangulares, pintadas muito próximas umas das outras ou sobrepostas e preenchem quase totalmente a superfície da tela. As tonalidades são geralmente escuras e saturadas. A artista explora muitas vezes as texturas densas, utilizando tintas encorpadas, às quais acrescenta areia e outros materiais rugosos, como ocorre em Composição à Margem do Rio (1959) ou em Pesquisa (s.d.).

Yolanda Mohalyi torna-se, desde o fim da década de 1950, uma das pintoras mais representativas da pintura informal no país. Participa de várias exposições nacionais e internacionais e de quase todas as Bienais Internacionais de São Paulo, entre 1951 e 1967. Escolhida como melhor pintora nacional na Bienal de 1963, tem uma sala especial na Bienal seguinte. Nessa exposição de 1965, apresenta telas nas quais ocorre a condensação das manchas de cor que emergem em grandes formas, sobre as quais surgem elementos lineares, trabalhados em gestos largos. A artista retoma em seus quadros a procura dos efeitos de transparência.

Em suas obras, gradualmente, as formas se expandem e ocupam espaços cada vez mais amplos, como em A Grande Viagem (1969) ou em Formas em Evolução (s.d.). Na década de 1970, a pintora trabalha com imagens translúcidas e explora harmonias musicais como em Vôo Espacial (1971) ou em Outono 72 (1972). Seus quadros apresentam cores flutuantes, empregadas em singulares expressões luminosas. A tela Meteoro (1971), representativa do último estilo adotado por ela, traz a sugestão de uma harmonia cósmica, explorada pela elaboração do grande espaço construído em sutis transições tonais.

×